Destaque para outras Almas Nuas

domingo, 21 de agosto de 2011

Ao Acaso


"No seu pequeno mundo,
Das cavernas, oriundo,
Os sinos são de alumínio
Ecoando em seu domínio,
Tocando cotidianamente...

É rainha falida e destronada,
Perdida, enfim encontrada,
Em seu castelo tão precário,
Constante santuário,
Com torres de louça suja...

A atmosfera é caótica,
Real distorção ótica:
Desordem... Desordem... Desordem...
Vaza os próprios olhos enquanto todos dormem,
Arranca-os da órbita com as mãos e os atira,
Em seu metro quadrado gira...
Feitos as ondas em vai e vem, perde-se e gira...

No seu universo oco há uma ilha,
Com uma única trilha,
E é lá que mora a perdida,
Para lá correu fugida...
Dois passos e chega ao outro lado -
Pensamento alado...

"- É deserta!" - diriam os tolos,
Falta-lhes na caixa miolos...
Mas ela pode ver dançando Palmeiras,
Um arco-íris nas Corredeiras,
O Sol que nasce e sua luz dura quanto puder
- Até para o Sol há anoitecer...

Vê a Lua arrastando um manto negro,
Cobrindo o mundinho egro,
Sempre é tão noite e menos dia,
Desditosa fotofobia,
Pois a imensidão não é azul, é negra

Junta sacos de papel branco,
Da cor do que é mais franco,
Migalhas que sobraram do pão
Antes afogadas na sopa rala do caldeirão
Que não alimenta - só engana a fome...

Recorta, costura ao meio e faz um caderno,
Costurando também a entrada do próprio inferno,
Finge escrever poesias,
Garimpando nas tristezas, alegrias...
Mas suas linhas são enigmas,
Sânie fluindo dos estigmas,
Que satisfazem seu vazio...

São segredos e mistérios que se perderão no tempo,
Da caprichosa vida mero passatempo,
Nunca entenderão, muito menos decifrarão...
Sem esperança de absolvição,
Criou muralhas altas com jornais velhos,
Flagelando-se com relhos,
Para esconder-se de si mesma...

O pico mais alto da montanha de louça,
Não importa se usada toda a força,
É o mais alto que chegará,
Pois que seja lá o que virá,
Seus sonhos têm asas, mas voam no raso,
Rumando em direção ao acaso,
E acabam abocanhados pelo Devorador...

Mundinho pequenino...
Infértil ovarino...
Os lençóis esvoaçam alvos no varal,
Esticado no meio do quintal:
São almas imaculadas voando livres...

Na rotina grande acontecimento,
É todo seu divertimento,
Entre um e outro gole,
Esquecida por sua prole,
No cálice que também tem asa,
A bebida escura também é amarga,
Mas adoça no final...

Deixa o corpo bem atento
Para o vício alimento
Que dissolve as frustrações,
Juntamente com os pulmões,
Como a fumaça no ar...

Olha o relógio sem ponteiros:
Foram dizimados seus cavaleiros,
Então cola ali borboletas e passarinhos,
Para que ali façam ninhos,
O tempo voa então por que contá-lo?
Ocupa apenas os espaços...

O Espaço é a lixeira que recebe
De boca aberta tudo o que não serve...
O coração é antiga cristaleira,
Coberta com tanta poeira,
Onde está guardado para eternidade,
(mas não para a posteridade)
O que nunca vai usar, talvez por não servir pra nada...

Sua alma escapa pouco a pouco,
Sorrateira feito um Leopardo solto,
Na ponta do cigarro que arde,
Depois já será tarde:
Não é mais ardente que o Inferno interior...

Lavou seus pecados na água da pia,
Olhou todos eles e em escárnio, ria...
Ouviu os ecos das vozes do além,
Riu de todas elas também,
Indiferente, pois seu pequeno mundo ruía..."


Licença Creative Commons
Ao Acaso de Shimada Coelho é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja Bem vindo!
Obrigada por comentar!