Minha tremenda Ignorância

Não sei de tudo, mas conheci muita coisa através da experimentação. Sou a maior ignorante que conheço.

Tento continuar o livro que quando comecei era um tempo propício: não havia nada para fazer, morria de tédio e tudo era quieto demais. Logo após, o caos veio feito avalanche, daquelas que vem em seqüências. Pouco tempo, muito trabalho, pouco silêncio, muito barulho...

A gata me segue por todo lado carregando o filhote na boca e coloca aos meus pés. Mia como se quisesse dizer algo. Sou ignorante demais pra compreender. Não falo a língua dos Anjos e sou da dimensão primária: primitiva e ignorante demais.

Depois que ela jogou tudo de dentro de meu guarda-roupa ao chão, procuro outro lugar para que a gata deite com seu filho. Ela continua me seguindo, miando com o filhote na boca. Pego o pequeno e tento aquecer... Dou leite substituto em uma seringa, mas ele mal abriu os olhos. Coloco em cima da cama, mas a gata continua: segue-me e coloca o filhote nos meus pés como que dizendo 'toma que o filho é seu'.

Senta diante de mim... Seus olhos grandes parecem maiores e brilham compaixão. Quero ajudar, mas sou ignorante demais pra saber em que. Se ela continuar a carregar o pequenino assim, sentirá frio e morrerá. Entro em contato com uma veterinária, mas ela diz que não sabe o que é. Agradeço e não me admiro: convivo com os gatos a vida inteira e sei muito mais do que ela pode aprender em livros.

Pego o filhote e coloco entre os seios, assim ficará aquecido. A gata se esfrega em minhas pernas e penso ter entendido o que ela está dizendo. Ela deita e dorme sem se importar com o tamanho da minha ignorância.

Fico olhando enquanto ela dorme... Mestra de Sabedoria para a racional tão ignorante. Muitas vezes, não compreendo o que falam os da minha própria espécie, porque acredito que posso entender a língua dos gatos?

Minha tremenda Ignorância de Shimada Coelho é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.