"Dê atenção ao que você é, não ao que você parece ser."
Lembro-me de quando comecei a usar o Facebook anos atrás... Naquela época, era preciso receber um convite para conseguir ter um perfil. Mesmo com tantos convites, eu me recusava a ingressar. Veio o Orkut... Pensei que através dele seria mais simples fazer ciberativismo e por ali fiquei até que começou a ficar estagnado e decidi experimentar o Face.
Demorou para acostumar, era bem diferente do Orkut, principalmente a aparência, o lugar dos comandos e por isso, meus acessos não eram frequentes. Foi assim que comecei a publicar meus pensamentos na rede social. E então, passou a ser frequente me fazerem a pergunta: "- Você é budista?". A resposta era sempre "não" e achava graça disto. Como não usava fotos, também perguntavam muito quantos anos eu tinha e a resposta, sempre parecia surpreender: "- Pelas coisas que escreve, pensei que você tivesse uns vinte anos a mais do que sua idade...".
Eu não compreendia o que havia nas minhas palavras que causava impacto e porque alguém se surpreendia com minha idade: como se alguém da minha idade não fosse capaz de dizer aquelas coisas. Hoje eu sei:é o reflexo do aprendizado em meus primeiros cinco anos de vida.
Eu fui criada entre a multidiversidade, as diferenças em absolutamente tudo, inclusive religiosa. Nossos vizinhos e amigos eram de etnias, culturas, cor, crenças e tradições diferentes sendo muitos estrangeiros de várias partes do mundo. Minha mãe era japonesa e meu pai era filho de índia. Meu avô era budista e foi obrigado a abandonar sua filosofia e converter-se ao catolicismo à partir da Segunda Guerra Mundial. Isso durou até pouco antes do fim do militarismo. Sendo assim, minha mãe era católica quando nasci e quando eu tinha quase cinco anos, ela passou a frequentar uma igreja evangélica. Nisto, a crença do meu pai era indefinida: era devoto de Aparecida o que poderia fazer dele um católico, mas, ele também acendia muitas velas que dizia ser para as almas, além de ter vários conhecimentos de xamanismo e cura com ervas. Algo que ele dizia quando eu perguntava qual era a religião dele, era uma frase que meu avô também sempre dizia: Não nomeie as coisas. Sem nomear nada, eu apenas admirava o que cada crença ao meu redor podia me ensinar e a importância para um indivíduo em acreditar em algo. Não, eu não sou ecumênica e nem eclética: não precisamos nomear as coisas.
Apesar desta diversidade religiosa, foi meu avô quem me iniciou no espiritualismo até meus cinco anos de idade. Não, ele não me ensinava budismo, porque dizia que, assim como Cristo não era cristão, Buda não era budista. Ele me iniciou-se na filosofia oriental.
Os cinco primeiros anos de vida são os mais importantes do ser humano. Tudo o que ele absorve neste período irá se refletir em sua personalidade, seu caráter e seu comportamento. Eu vivi todos meus anos sem ter a consciência que a base para a pessoa que sou foi dada por meu avô.
Só agora alcançando a consciência sobre isto, estou lembrando de tudo o que foi me ensinado e como tudo sempre esteve tão presente em minha conduta. E só agora, consigo retornar ao meu "eixo de equilíbrio" e retornar aos poucos ser a pessoa que sempre fui, no sentido da pessoa que sempre prezou por sua essência. Quando me esqueci do meu aprendizado, o desejo por paz interior continuou, mas, havia me esquecido que esta paz não se encontra ao nosso redor...
A filosofia oriental não é uma religião: é um modo de vida, um modo de pensar e interpretar o mundo, a vida e a realidade. Seja budismo, hinduísmo, taoismo, não importa de que parte do oriente seja, todos são muito semelhantes. Todos os modos de reflexão chegam a um mesmo ponto. Um dos pensamentos em comum da filosofia oriental é: "Tudo possuí um mesmo fundamento.".
Disse tudo isso porque, ao ir no Youtube procurar uma música nova e adequada para minha meditação, me deparei com muitos vídeos motivacionais, com promessas de prosperidade, abundância e riqueza, através do que seriam ensinamentos orientais. Em outras palavras, a filosofia oriental sendo usada para conquistar bens materiais através de um condicionamento mental.
Acredito, com meu pequeno conhecimento na filosofia que, as únicas pessoas que realmente ficam ricas são as que disseminam este uso distorcido através de palestras e livros de auto ajuda ou motivacionais.
Muito da filosofia causa uma mudança intelectual ou comportamental de imediato: é a lógica das coisas atuando no consciente e no subconsciente também. Mas, a filosofia oriental não ensina buscar o que é material... O desenvolvimento espiritual busca transcender, ir além do mundo físico, terreno... Ir além do Eu e seus enganos... Ir além de nosso corpo e de nosso cérebro... Ir além de conceitos, pré conceitos, preconceitos...
Em psicanálise vê-se a dificuldade no momento em que é preciso a confrontação de si mesmo.Para transcender é preciso confrontar-se... Para que tudo mude é preciso mudar e para mudar é preciso encarar quem se é, quem se pensa ser... De fato somos nós que construímos a realidade e para alcançar a compreensão disto é preciso derrubar os muros que nós mesmos levantamos e nos impedem de ver além...
De fato nosso maior inimigo somos nós mesmos e vencê-lo exige confrontação. A aversão, a procrastinação na confrontação exige que se saia da área de conforto, que se retire os véus, que se pare de mentir para si mesmo, de se auto iludir...
De fato, tudo começa de dentro pra fora. E sem mudar dentro de nós, nada muda. Portanto, forçar a mente a se focar em uma ideia como, se fosse um cavalo que forçamos a correr, não é a prática oriental.
Sempre que algo muito bom passa a ser vendido tornou-se corrompido, distorcido.
Tudo o que é bom, faz efeito espontâneo e imediato porque é a verdade que liberta. A verdade é discreta, sutil e educada: não precisa ser imposta porque é por si só.
A verdade é gratuita para quem a busca.
"Todo desconforto é um pedido de atenção."
"Aquele que está confortável em sua prisão não pode ser liberto por ninguém. Nada o tira da prisão porque ele é a própria prisão."
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