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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Caminhada & Reflexão

 


Arquivo Pessoal:
Neto peludo Bruce fingindo que consegue dormir sentado como um monge

Às vezes, saio para caminhar... Sigo o trajeto por ruas pouco movimentadas, mas, com os sons  comuns do cotidiano. Estas caminhadas não acontecem porque penso na necessidade de atividades físicas: eu caminho para refletir.

O tempo todo o Universo, a Vida, a Natureza estão generosamente nos dando alguma lição: seja por reflexão, seja por meditação, seja em meio as rotinas diárias através da prática. Sair, contemplar o mundo externo, observar as sutilezas do cotidiano e alcançar o que há por detrás de tudo o que parece 'banal', potencializa as reflexões das lições recebidas, pelo menos pra mim funciona assim...

Praticamente uma vida estudando o comportamento e desenvolvendo a contemplação, as habilidades mentais vão se tornando aguçadas para reflexões profundas. Sair para caminhar sempre será uma analogia que analisa minha própria vida e eu mesma... As ruas, os obstáculos, os sons, a paisagem, as pessoas que passam, sejam à pé ou em seus veículos, tudo me remete ao trajeto desta longa caminhada chamada Vida. 

Ontem foi um dia que desejei refletir caminhando... O Conhecimento que vou absorvendo ao longo dos dias anteriores são processados e vão de encontro com os detalhes sutis da realidade externa... O aprendizado é constante e ocorrerá até o fim da vida porque, sempre que alcançamos uma resposta, novas questões surgem à partir daquela resposta... Eu refleti e alcancei compreensão durante a caminhada, mas, novas questões surgiram.... Não era porque eu perdia o foco no tema processado na mente... Era porque o que os olhos alcançavam correspondia com o processamento...

Eu questiono absolutamente tudo o que um indivíduo é capaz de fazer e eu não. Normalmente, tem a ver com qualquer tipo de atitude contrária ao que acredito e consequentemente, determina minhas ações. Um exemplo seria: "Como alguém consegue simplesmente apontar uma arma para outra pessoa e subtrair dela aquilo que custou-lhe algum sacrifício ou esforço?". Ou  ainda: "Como alguém consegue mentir descaradamente para a outra que enxerga o peso da inverdade?" Eu, não teria a capacidade de fazer algo assim, mas, por que algumas pessoas conseguem? O que as movem? Quais seus impulsos? Seria simples admitir que eu não precisaria desgastar meus neurônios com estas questões, mas, estes questionamentos misturados a um inconformismo leve são impulsos muito naturais em mim: praticamente automáticos. As questões que surgiram durante a caminhada estão aqui, latejando na mente, sem incomodar: o que incomoda é esta necessidade inexplicável de querer respostas e desejar muito compreender...

Saio na calçada e começo a caminhar... Um terreno vazio bem próximo, que possuí donos que já cercaram este terreno, tem servido para que todo tipo de entulho e lixo seja jogado. Sempre surge a prefeitura para limpar o que deveria ser a calçada, sempre se percebe que alguém procurou retirar tudo aquilo, mas, é inútil: entulho, restos de móveis de todo tipo, são deixados ali. Quando limpávamos o jardim, precisávamos descartar uma enorme quantidade de folhas das Palmeiras, da poda das árvores, da Unha de Gato que se estendia pelos muros... Como o terreno é totalmente tomado por mato e em meio a eles algumas flores e folhagens brotam - até chuchu e abobrinha - colocávamos de modo ordenado todas as folhas que precisavam ser dispensadas porque folhas de árvore e plantas não são lixo e em contato com o solo tornam-se não apenas adubo, como também, ajudam a manter a terra úmida. Pensávamos que era muito melhor deixar a Natureza fazer seu ciclo do que encher vários e vários sacos plásticos... Já precisei me desfazer de móveis, mas, não tive coragem de jogá-los naquele terreno: preferi colocar na minha calçada e, em minutos sumiam. Alguém sempre passava e levava embora porque era aproveitável. O que leva alguém a andar por vários metros, ir até o terreno alheio e ir criando uma montanha de entulho e lixo? Será que ela sente o incomodo que me impediu de também jogar algo ali? Será que ela não pensa que aquela atitude vai gerar consequências? Ou apenas existe o pensamento de que "Não tem problema jogar, porque depois alguém vai e limpa!".

A caminhada continua... Passo por uma calçada que possui alguns canteiros com folhagens muito bonitas. Houve poda nas folhagens. Houve alguém que achou que o formato quadrado dos canteiros os tornam lixeira.... Lixo, embalagens, até um saquinho de tecido que parecia ser de óculos... Como funciona isso na mente? Eu passo pelos canteiros no momento em que quero descartar o que considero lixo e jogo ali? Não consigo compreender porque sou aquele tipo de pessoa que devora um sorvete enquanto caminha e fica com o guardanapo na mão ou no bolso até chegar em casa! 

Uma moça bonita passa correndo junto de seu cãozinho preso que também corre. Agradável ver o peludo correndo feliz! Depois dos canteiros, ao virar a esquina, a visão panorâmica gerou o seguinte pensamento: "O que será pior? Os rastros de fezes de cachorro, os palfletos dos políticos ou ambos são a mesma coisa?".

Não, não sei se o cãozinho que passou correndo e feliz contribuiu com aquela sequência  interminável de fezes que parecia uma marcação de trilha. Eu cuidei de animais de várias espécies a vida toda: não tenho nojo das fezes dos bichinhos. Tanto que, tenho dois netos e oito sobrinhos de pelos! Aliás, por uma semana fui babá de seis deles: uma cachorra e cinco gatos comigo em um apartamento. A cachorra, Jujuba, é a única que faz o passeio pelas ruas e já sabe onde há dois espaços gramados onde ela pode brincar e fazer as necessidades. Na guia que vai presa à coleira, existe uma bolsinha fixa onde são colocados saquinhos para recolher as fezes dela... Também há outra bolsinha onde ficam lenços umedecidos para ela ser limpa...

Seguia caminhando, desviando das fezes que podiam apontar tamanhos diferentes de cães e concluí que muitos passaram por ali. O interessante é que durante a ida e a volta, não vi nenhum cão de rua perambulando... E hoje em dia, com lojas bombando com todo tipo de artigos e acessórios para pets, me perguntei:"Como alguém consegue levar o cão para passear, parar esperando ele defecar e simplesmente continuar seu caminho?". Me veio outro pensamento em seguida: "E se esta pessoa estivesse caminhando com sua criança e esta sentisse vontade de evacuar? Seria dito para a criança: agacha ai, faz e pronto?". Estamos em 2022, século XXI e há alguns anos foi determinado que pessoas que trafegam na rua com seus cães devem recolher as fezes. Talvez, não haja quem aplique a multa, mas, temos o direito de chegar no indivíduo e pedir que ele recolha!

Entre umas fezes e outras, me deparava com panfletos de políticos... Não bastasse serem jogados ao vento, também são colados ou adesivados em postes, portões, muros... Eu me perguntei: "Como um político pode se considerar apto a administrar ou guiar os rumos de um povo se não consegue fazer com que seu grupo de partidários e apoiadores não tenham consciência ambiental, de lixo, de educação, de senso?". 

Calma! Emocionalmente e psicológicamente eu estava bem, com minha paz de espírito conservada: o mundo externo é assim! O trajeto não é de todo perdido: as mesmas árvores floridas continuam florindo, embora, não sejam as mesmas flores de sempre, mas, são as mesmas árvores... (Capitou?). Os Bem-te-Vi e as Maritacas dão sinal de vida por todo lado. O sol arde, mas, o vento está fresco. As nuvens gorduchas desfilam no céu. Os cães nas garagens vão latindo conforme alguém passa.

De repente, é preciso atenção para atravessar um cruzamento bem sinalizado e um tanto movimentado. Uma mulher pára seu carro exatamente em uma curva onde é feita uma manobra para entrar em uma rua... Quando um carro subia com certa velocidade e ia fazer a curva, desviava repentinamente porque havia um veículo estacionado em um local indevido....  Isto estava tirando a segurança de quem estava na faixa de proteção, no caso eu, que poderia ser atropelada. Pensei comigo: "Será que estar vestida de branco e o diploma que possuí lhe dá o direito acima da lei e da ordem para que estacione em qualquer lugar, pelo tempo que quiser, infringindo as leis e códigos de trânsito? O que passou na mente dela para decidir que podia estacionar justamente ali, com vários espaços ao redor onde ela poderia estacionar devidamente?". 

Não fui atropelada, então, pude seguir minha caminhada, entrando em uma rua que considero agradável e que me lembra a atmosfera da Vila Madalena... Encontrei uma amiga, abracei uma árvore e, nem ai para que os outros pensam. Comecei o caminho de volta, sentindo o quanto as pernas fazem mais esforço ao subir as tantas ladeiras do bairro....  Os rastros de fezes e panfletos políticos estavam no mesmo lugar, mas, o trajeto  não me parecia o mesmo: eu já não era a mesma. Eu já não fazia mais perguntas a mim mesma, não refletia sobre nada, apenas sentia meu corpo vivo, a grata dádiva de poder caminhar, respirar, ir e vir... Ao chegar em casa, meu neto peludo Bruce - um rottweiler que deve ser mais alto que eu -  me saudou como se eu estivesse ausente por dias! Fui colher cerejas para congelar e fazer geléia... O porque as pessoas se comportam como se comportam, o porque fazem o que fazem, não é tão relevante quando eu devo ter consciência de como me comporto e estou agindo...

Isto foi ontem.... Um dia jamais será igual ao outro, mesmo que você faça as mesmas coisas repetidamente. Não vou poder seguir escrevendo o livro hoje porque, uma escola lá embaixo na avenida, embora seja impecável no ensino de boas maneiras, esteja hoje com um evento para os alunos... O som das crianças faz parte do dia-a-dia, mas, a pessoa ao microfone ecoa pelo bairro todo, inclusive aqui, dentro do meu quarto: haja vidro para impedir que a voz dela chegue clara aos meus ouvidos.... Ai me pergunto: "Será que a pessoa tem consciência de quanta gente ela está atrapalhando com o microfone nesta altura? Será que ela se importa? Será que alguém ali se deu conta de que a voz dela ecoando pelo bairro está bem mais alta que os gritos alegres das crianças?"....

Todas estas perguntas não tem respostas, ao menos, não quero ter. Para cada pergunta feita, acabarei cometendo julgamentos, críticas, me sentindo contrariada, demonstrando intolerância, incompreensão... Isto também é muito feio! Não dá pra escrever: é só colocar um filme ruim e fazer Arte, regar as plantinhas, brincar com o neto peludo, namorar as nuvens, colher mais cerejas e cuidar da minha vida, não da vida dos outros, né? rs

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