Às vezes, penso que ouço sons musicais que lembram grandes orquestras. Penso ouvir músicas que não estão sendo tocadas em lugar nenhum. Penso também que com o passar do tempo vou ficando um pouco mais louca e ruim da cabeça e revejo minha identidade e minha personalidade que penso ser coisas distintas.
Algumas pessoas olham minha foto na rede e pensam estar me reconhecendo. Já me disseram que eu lhes apareci num sonho, ou que fui uma sacerdotisa de Atlantis, que fui uma serva no Egito ou que fui uma donzela na Inglaterra. Neste momento, não sei mais se sou eu que vou enlouquecendo ou são as pessoas, pois nunca estive em nenhum desses lugares. Tive outras vidas? Nem sei e o que importa? Agora só tenho esta!
É certo que minha mente busca no profundo de seu baú empoeirado memórias que eu nem sabia que possuía. Penso que deve ser por isso que acreditam que possuo vocação para escritora, mas eu apenas vou contando o que minha mente insana me mostra. Ela sim tem talento e é fértil.
Não sei o que digo para pessoas que acreditam ler em minha testa um rótulo quando eu nunca me auto rótulo nada. Alguns vizinhos parecem ter medo de mim como se eu fosse uma icognita. Cresci em meio a uma gente que acreditava que eu fosse uma profeta. Me deparei com gente que afirmou que eu fosse uma bruxa. E ainda há aqueles que perguntam já com a certeza da resposta de que sou alguma médium, ou espírita, ou paranormal. No meio de tudo isso eu só penso. Penso se não seria eu fruto da imaginação das outras mentes férteis que precisam dar nomes a tudo que as rodeiam para ter uma referência e quando eu nem sei meu nome. Deram um nome grande para este corpo que uso, mas acredite: não é meu nome real. Nem esta imagem que balança o coração de alguns homens tão insandecidos por um par perfeito, nem isso sou eu. Sei que não sou... Eu vivo olhando-me no espelho - embora não goste - e tenho certeza que aquela lá não sou eu.
Eu, sou um par de olhos inquietos que vivem olhando as nuvens e o horizonte, esperando como se algo fosse aparecer ali. Sou os mesmos olhos de sempre na janela que vê a pipa, vê a feira, vê a casa da amiga, mas não consegue ver ninguém.
Sou uma intolerância absurda, incapaz de entender o que um ser tão poderoso como um Deus vê em tanta gente medíocre e pequena que se auto intitula importante, mesmo sem ser. Sou uma incompreensão tamanha ambulante que vê o mundo como se fosse uma pintura abstrata e incompreensível, pois sou também a ignorância em pessoa.
Enquanto penso e insandeço, me perco na tela oca encrustrada na minha parede admirando a Grande Bacia forrada de habitações irregulares e coloridas onde mora tanta gente e tão sem gente. Os olhos inquietos buscam que seja uma unica alma viva caminhando pelas ruas e não há ninguém. Talvez estejam todas fazendo o mesmo que eu, enclausuradas em suas telas com pinturas ilusórias quase surreais, tecnológicas ou 3D. Talvez, eu não seja mesmo,nem sã e nem louca e seja apenas mero fruto de minha imaginação que pensa existir.
A obra Só Penso... de Shimada Coelho foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
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