Destaque para outras Almas Nuas

sábado, 27 de agosto de 2011

Melodia do Vento

Imagem de Arquivo Pessoal: Cerejeira do Rio Grande do Sul



Acima, na imensidão, sob a Cerejeira que floresce creme, o azul é absoluto.

As nuvens estão de folga e foram passear longe para contemplar outras terras e deslizar em outros céus.

O Vento tenta chamar a atenção da poetisa que acredita poder descrever a Vida. Sopra livre e parece querer substituir os encantos das brumas de algodão tão alvas, mas foi ele mesmo a carruagem que as levou daqui.

As longas folhas bordô que parecem ter se embriagado de todo o vinho do mundo continuam altivas e esnobes, mas não conseguem disfarçar que dançam discretamente ao som da Melodia dos Ventos.

As Palmeiras que se abrem agradecidas para o céu, celebrando o pequenino pedaço de chão, não disfarçam e nem são discretas, fazendo percussão esfregando as folhas umas nas outras, num murmúrio que tenta cantarolar a canção.

Um rastro de nuvem é percebido, quase imperceptível no céu, mas o Vento logo delata que as nuvens seguiram rumo ao Norte.

A Ameixeira, plantada pelos passarinhos, não dança e nem canta porque disputa espaço com a Espirradeira, mas pra que se ambas são assim com 'eira' sem beira?

O Ype parece morto, mas na ponta de seus galhos secos exibem-se graciosas flores de um amarelo intenso, não tanto quanto o dourado dos raios de Sol que as destacam.

Morta mesmo está àquela parte da Unhas-de-Gato que de tão audaciosa, desejou fugir do seu lugar e apegou-se a uma parede sem vida. Agora sabe que sua liberdade ia até onde lhe desceu o facão e ainda tão dependente espera que alguém a arranque dali. Por enquanto, por tão dependente que é, agarra-se ainda à parede tão sem vida quanto, revelando-se Arte de Natureza Morta que perde pouco à pouco as folhas que ainda lhe resta e que caem secas.

A cachorra deita ao lado da poetisa como se ouvisse seus pensamentos e neles fosse ninada. Se for assim, parecem agradáveis, pois agora dorme tranquilamente. Logo sentirá sede, beberá água e buscará um canto onde o Sol arde porque o sono faz sentir frio. A poetisa prefere as sombras, pois nelas sente-se escondida: antes frio que a ardência.

Um pequeno passarinho rasga o céu e como não notá-lo nesse vazio azul todo? Embora apenas um que passou, ouve-se o canto dos passarinhos, mas não se pode vê-los.

O Jacarandá usa o Vento para sacudir-se e faz chover sobre a cabeça pensante de mente insana, finos gravetos e folhinhas secas para dizer:
"- Acorda poetisa! A Melodia dos Ventos não tem fim!"


@shimadacoelho


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Melodia do Vento de Shimada Coelho é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.

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