Um relâmpago revela as silhuetas na escuridão...
Cabisbaixos - ora com asas abertas, ora recolhidas - os anjos olham o que?
Um trovão e o medo percorre a pele...
Cercam-me vultos brancos com rostos em prantos...
No Jardim de Vidas Findas o céu sempre parece cinza...
O Sol esconde sua face para que ninguém veja sua dor...
São tantos rostos desbotados, tantos nomes e tantas datas...
Quem se lembrará de algum deles?
A terra resiste a força da pá que desce sem pedir licença...
Obriga-a a engolir as flores que logo estarão murchas
Ou as jóias que perderam seu fulgor...
Flores... São de cores mórbidas...
Flores... Com perfume de pesar...
Coroas - não de glória - apenas insignia da batalha travada e que acabou,
Velas... Com chamas trêmulas por causa daqueles que passam...
Passam... Os rostos, os nomes, as datas,
As dores, as coroas, as chamas,
As nuvens do céu cinza, o cinza...
A urna é concha que guarda seu segredo,
Logo, logo se abrirá e devolverá pó ao pó...
A lágrima escorre pelo rosto e se transforma em pérola de dor...
São tantos rostos que nunca vi...
Nunca souberam também se eu existi...
Nomes que ninguém se lembra mais...
Depois de tanto apego, tanta luta, tanta devoção,
Parte a Alma - agora livre - sem olhar para trás...
O apego deteriora-se como o mal que a levou...
A luta é herança e disputa um lugar...
A devoção vai murchando em tantos vasos espalhados na escadaria...
No Jardim das Vidas Findas foi e é mais uma...
Um tesouro enterrado que a noite alguém resgatou...
Dorme agora no Reino etéreo,
Tão procurada...Ninguém mais a achou...
O Jardim das Vidas Findas de Shimada Coelho é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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