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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Rua da Feira



A feira de Sexta aqui no bairro é tradicional. Desde a minha infância ela acontece na mesma rua. O cheiro de frutas no ar, os gritos dos feirantes, as senhoras com seus carrinhos que congestionam o longo corredor, as mães que carregam tantas sacolas e a fila de filhos, tudo ainda é igual. Gosto de ir até lá, embora não goste de lugares abarrotados de gente. Mas as sensações da infância manifestam-se ali, como se entre as barracas houvessem algum portal ou Buraco de Minhoca.


Desde a infância também, gosto de observar as pessoas e a feira é repleta delas. Tantas e tão diferentes! Mas me apego aos comportamentos semelhantes... É curioso pra mim! O mais interessante são aqueles que deixam as pessoas empacadas no meio da feira. Eu paro atrás delas e tento descobrir porque estacionaram justamente onde todo mundo precisa passar. 


O corredor da feira vai se estreitando cada vez que as barracas atendem mais clientes. Então, forma-se aquela fila extensa - uma de cada lado - encostadas nas barracas, com pessoas estacionadas que estão sendo atendidas.  O espaço para passagem se amontoa de transeuntes que ainda decidem em qual das barracas irá parar. Em certo momento ninguém anda: algumas senhoras com carrinhoso disputam quem passa primeiro. Mas o mais intrigante são as pessoas que ficam paradas no meio do caminho, olham de um lado para o outro e não se decidem para que lado irão. Eu paro atrás... Sigo o movimento da cabeça delas para tentar descobrir para onde estão olhando... Tento adivinhar o que estão decidindo... Talvez fazendo cálculos para saber qual das barracas estão com os preços mais acessíveis... Talvez...


A rua da feira nesse momento se transforma em um rio da existência humana e cada barraca é uma escolha que a vida nos dá. Há quem saiba exatamente onde encontrar o que precisa. Há quem ande pela feira inteira, em um vai e vem, para descobrir o que quer. Há quem pára no meio do caminho, sem saber o que quer e para onde ir,  impedindo que outras pessoas possam seguir.

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