imagem:Atlântida
Certa vez, ouvi uma lenda que ficou marcada e a utilizo como referência quando quero explicar sobre as coisas que podemos enxergar e as que se mantém ocultas.
Conta a lenda que Cristóvão Colombo já vislumbrava a América e aproximava-se cada vez mais da praia onde haviam vários nativos em atividades sociais mas, nenhum deles avistou as embarcações se aproximando.
A frota não estava muito longe do ponto de ancorar, mesmo assim os nativos não perceberam a aproximação. Um pajé caminhava pelas areias em meditação quando percebeu que as ondas que se quebravam em seus pés alteraram-se. Ergueu seu olhar ao horizonte e nada avistou. Mas a mudança no comportamento das ondas delatava que algo ali não estava como o habitual. Conhecedor da Natureza ficou por algum tempo tentando descobrir o que estava acontecendo.
Quando a frota ancorou, ele começou a enxergar pouco a pouco as embarcações que iam surgindo diante de seus olhos como mágica. Jamais havia visto nada igual! Então, ele começou a alertar os outros sobre o que estava vendo. Depois de descrever sua visão, só então os demais nativos começaram a enxergar também a frota de Colombo ancorada diante da praia.
A moral da história sugere que todos nós só podemos enxergar aquilo em que acreditamos! Os nativos jamais haviam visto algo do tipo, suas mentes jamais conceberam a possibilidade da existência de algo tão grandioso e por isso não podiam ver a frota: seus olhos desacostumados com algo tão novo não podiam ver o que nunca viram.
Esta lenda serve para retratar nossa condição cotidiana: só seguimos, só nos agarramos e só temos como real aquilo em que acreditamos. O que acreditamos é algo pessoal!
Nos ensinaram que para ter um foco é preciso criar um objetivo. Para ter um objetivo é necessário crer na possibilidade dele ser possível! Isto também é uma escolha pessoal. A maioria de nossas crenças é pessoal em todas as áreas de nossas vidas e por isso o ser humano vai se transformando cada vez mais individualista matando o resto de consciência coletiva que possuí e que é tão necessária.
Consciência coletiva não é suar para ter algo e dividir a metade com seu vizinho... Mas o que nos impede procurar saber se tudo vai bem com quem está ao seu lado? As pessoas trabalham, trabalham para ter tudo o que desejam, à noite acomodam suas cabeças no travesseiro com a sensação de dever cumprido e intensa satisfação em poder realizar, sem pensar - um minuto sequer - se quem mora ao lado está conseguindo deitar-se e dormir em paz. É um reflexo de desobrigação quanto ao outro, pois, estando bem para si, o mundo está ótimo.
Nisto, vamos criando antolhos que vão aderindo-se a carne, condicionando-nos a olhar sempre em frente e na frente costuma sempre estar ao alcance de nossa visão aquilo que nos interessa. A visão periférica vai cegando-se e vamos deixando de enxergar o que acontece a nossa volta.
Entramos em um sistema que nos mantém caminhando em uma única direção! E como em todo bando, quem será o pastor liderando as ovelhas? Na individualidade, cada um levanta suas próprias bandeiras, baseadas em suas próprias crenças, defendendo seus interesses próprios de acordo com escolhas pessoais e isso não é coletivo... O mínimo que faz é juntar outros cuja vontade é similar e acaba-se criando um grupo! Um grupo não é coletivo, mas talvez a atuação dentro dele seja. Mesmo assim, um grupo é uma ilha em meio a uma multidão de mentes diversas.
O tempo todo está acontecendo coisas a nossa volta... Para todo lugar que olhamos há frotas se aproximando para ancorar e na grande maioria das vezes não estamos enxergando pois já estamos condicionados a não ver. Nos ensinam a acreditar em coisas palpáveis, portáteis e carregáveis em todos os sentidos... Se pode-se chamar de 'meu', existe e só cremos no que para nós existe!
A formiga existe para nós, mas nós existimos para a formiga? Ela cabe em nosso campo de visão e um dia passamos a enxergá-la quando ela nos mordeu a primeira vez. Mesmo que pisamos nelas o tempo todo, elas saberão o que as atinge? O campo de visão da formiga é limitado e nós não cabemos nele. Para a formiga nós não existimos.
Só há um Ser - inexplicável e indescritível - que nos enxerga sempre, embora sejamos meras formigas diante da imensidão do Universo. Este Ser nos enxerga sempre, mas nem sempre podemos Vê-lo... Talvez Ele não caiba em nosso campo de visão tão limitado.
O trabalho Visão de Formiga de Shimada Coelho foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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