A violência é o último refúgio do incompetente. - Isaac Asimov
Uma pesquisa da Universidade de Minessota estudou 8 mil pares de gêmeos durante vinte anos, na tentativa de descobrir a influência da hereditariedade na formação da personalidade humana. Resumindo, a pesquisa concluiu o que alguns profissionais já sabiam há um bom tempo: boa parte das características de personalidade são repassadas hereditariamente.
Observo o mundo e os rumos da Humanidade e não deixo de questionar se tudo o que vemos hoje não seria uma carga genética em sua forma bem expandida, ou melhor, aproximando-se do seu ápice de evolução... Pois, se observarmos os atos de maldade do passado até hoje, podemos enxergar também um progresso: não somente nos atos cometidos como também nos fatores externos relacionados.
Se olharmos sob um ângulo científico, a esperança de que o ser humano mude parece impossível já que cada indivíduo que nasce recebe carga hereditária de personalidade e consequentemente receberá a carga de influência por causa da atmosfera onde vive e se desenvolve. Quer dizer que, uma criança que nasce e cresce em uma família cujo pai é alcoólatra e maltrata a mãe, gerará no futuro um indivíduo violento e com predisposição a algum vício ou será uma pessoa submissa. Dependendo da carga hereditária e de influência, estas características podem evidenciar-se em duas ou três vezes mais.
Seja através de noticiários, seja pela narrativa de alguma vítima que nos é conhecida, seja diante de nossos próprios olhos somos testemunhas de crimes e atos violentos que invadem a rotina frenética de nosso cotidiano. Nossos problemas pessoais e familiares já são tantos que ignoramos espontaneamente estes fatos. Há dentro de cada um de nós - independente das cargas que recebemos - um impulso natural que nos faz seguir, como uma ordem dada. Talvez, não ignoramos nada... Talvez de fato isto seja ser realista: uma vítima tão próxima de nós sucumbi, reagimos emocionalmente ou psicologicamente ao episódio mas precisamos seguir. Talvez, nos focarmos tanto neste assunto seja vestígio de trauma...
Independe da conclusão a que cada um chegue, ignorando ou não os fatos, quem de nós não acaba em algum momento do dia ou da noite perdido nas próprias reflexões e pensamentos, questionando-se se o ser humano poderá mudar? Atualmente a violência e o Mal estão tão evidentes e tão descaradamente divulgados que já é impossível ignorar por completo. Crimes hediondos praticados, vítimas indefesas, assassinatos brutais sem motivo justificável, movimentos hipócritas e contraditórios. Mata-se alguém da própria espécie por motivos fúteis, por contrariedades de um Ego afetado. Age-se violentamente contra um ser indefeso por causa da própria indefesa: é fácil ser mais forte diante do mais fraco. O impulso que faz uma arma disparar é o Medo. Quem segura o chinelo ou a cinta para bater utiliza-se de um objeto para não assumir que é o agressor direto, reconhecendo que é um covarde que não corrige mas que pune:o objeto na mão prova a própria insegurança e medo. Faz-se guerras e rebeliões com justificativas vagas... Guerra para se ter Paz. Violência para se ter Paz. Opressão contra o Fascismo! Delinquência contra a Ordem Pública! Contrariedades de quem cria uma causa baseando-se na própria frustração ou cria uma nova ordem para conseguir a aprovação que acalma a consciência.
Até aqui, esta nossa conversa corre como em qualquer outro texto, enfatizando-se demais as ações do Mal... Então, deixemos um pouco de nos perguntar se as pessoas que praticam o Mal podem um dia mudar e nos perguntemos: Como o ser humano poderia mudar?
Seria muito bom! Imagine essa corrente de seguidas ações de maldade substituídas por ações do Bem! Um casal apaixonado com uma bela história de aproximação e conquista decide ter uma vida em comum. Ambos geram um filho, muito amado por ser resultado de um amor verdadeiro. A criança será criada sob os preceitos da moral, da civilidade, da honestidade, do amor ao próximo, do respeito mútuo...Tal criança poderá ser um bom cidadão no futuro, consequentemente melhor que seus pais foram pois esta é a tendência: nossos filhos continuam de onde paramos. O mundo não seria perfeito porque este Universo é Dual, mas provavelmente as ações de maldade seriam mínimas perto do que o Bem realizaria.
E como o ser humano poderia mudar? Se o criminoso de hoje já nasceu e não tem como retornar ao útero, nem sua família se restruturar antes que venha ao mundo... A tal conhecida frase " é preciso nascer de novo" significaria reencarnar já que não podemos retornar ao útero de nossa mãe? Mergulhamos nossas reflexões em tudo o que é filosofia e linha de raciocínio para encontrar uma resposta...
Então, deixemos de nos perguntar como o ser humano pode mudar... O mundo não muda porque as pessoas é que precisam mudar! Ninguém pode mudar ninguém e para que um indivíduo mude é preciso optar pela mudança. Hoje assisti um jornalista dizendo que é a favor da pena de morte, talvez por concluir que há seres humanos que não irão mudar nunca e que muito menos sistema carcerário algum é capaz de recuperar alguém. E ninguém muda ninguém. E ninguém conseguirá Paz através da Guerra. E ninguém se livrará do Fascismo através da Opressão.E ninguém melhorará a ordem pública com atos rebeldes.E nenhuma justiça será justa de fato enquanto servir de máscara para a vingança...
Me pergunto: porque precisamos continuar a corrente de Mal? Desejar profundamente a pena de morte para um criminoso não seria um modo de dar continuidade ao Mal? Este tipo de pena apenas elimina a marionete do Mal, não o Mal. Será um praticante da maldade a menos na face da Terra, mas o Mal ainda estará rondando muitos outros por ai. O significado da palavra matar não é sempre o mesmo independente dos motivos?
E que pena dar a alguém completamente infeliz, insatisfeito e frustrado consigo mesmo? Sim, o criminoso, o traficante, o assassino, o praticante de maldade e todo aquele que dá continuidade a esta corrente de Mal não se aceita assim como é, não aceita a própria sorte, não se satisfaz dentro da própria realidade, não se conforma com a própria realidade e, achando-se tão mais esperto que os demais, dá saltos para conseguir o que acredita que mudará tudo isso que o perturba dentro de si. Enquanto todo mundo segue processos, caminhos onde um passo é dado após o outro, onde aprende-se com cada erro e cada acerto, com cada queda e cada vez que se levanta, o praticante do Mal renuncia a tudo isso pois se sente vítima, se vê como pobre coitado que foi injustiçado por algo ou alguém e que é o verdadeiro merecedor de tudo de bom que a Vida possa oferecer. É como uma criança mimada que não entende um 'não' e quer seu brinquedo ou o doce preferido quando bem entender. Ele quer mudar a própria sorte, mas não quer passar pelos processos naturais porque no fundo se considera incapaz para fazer o que todo mundo nasceu pra fazer: seguir!
Centro de São Paulo, primeira semana de Dezembro, um jovem é apreendido depois de roubar um cidadão que já seguia de loja em loja nas ruas comerciais. Sua intuição julgou que o rapaz possuía dinheiro para ser roubado e acertou. A Polícia Militar foi eficiente e logo prendeu o ladrão.Foi perguntado ao infrator: "- Você não pensa em trabalhar?". A resposta: "- Não! Eu não gosto de trabalhar!". O sujeito não estuda e não trabalha, não contribui para o bem estar da própria vida mas, julga-se merecedor de tudo o que é bom que a vida possa oferecer e quer usufruir disso mesmo que seja uma ilusão. Com o dinheiro de roubo, não apenas consomem drogas: compram roupas de grife, frequentam baladas, caminham em uma postura de superioridade como os animais quando disputam território e não se dão conta de que não convencem ninguém ao seu redor e que o único enganado é ele mesmo. Não se dão conta de que quando tiram o que pertence de outra pessoa estão criando uma realidade momentânea ilusória onde fingem que são como aqueles que batalham para usufruir de seu esforço.
A pessoa chamada de 'mimada' é o contrariado. Engana-se quem pensa que o 'mimado' é apenas aquele que foi criado tendo satisfeito todos os seus desejos.Aquele que tudo lhe foi negado também pode ser um 'mimado'. Como criança ele quer, bate o pé, se joga e se debate no chão e quer a qualquer custo aquilo que entende que irá satisfazê-lo. Ou por ser acostumado a sempre ser atendido ou por nunca o terem atendido. O apego a ilusão de que 'coisas' farão sua imagem e reputação quando para isso é necessário atitudes. Doença ou falta de caráter? Independente do que seja, um ser humano é dotado de racionalidade e se não a usa não significa que pode se livrar das consequências de seus atos.
Ainda na mesma semana, uma amiga comenta em uma rede social sua indignação diante da crescente arrogância e estupidez humana: "O que está acontecendo com as pessoas? Elas estão mais mal educadas, mais estúpidas e mais arrogantes!". A maldade vai se tornando a ação mais frequente em nosso cotidiano e isso vai contagiando a todos. Sem se dar conta, a amiga entrou naquela vibração sequente no trânsito, no supermercado, e acabou por reagir no mesmo nível.Se personalidade passa geneticamente e fica mais evidente através de uma atmosfera familiar, uma pessoa também segue se transformando através da atmosfera onde convive ao longo dos anos de sua vida. O incentivo ao consumismo, a ideia de 'Ter' ser mais importante do que 'Ser', a submissão ao condicionamento social, a manutenção dos males sociais, o culto a aparência, a padronização como recurso para aceitação, as táticas de domínio e influência em vários setores da Sociedade, são movimentos bem presentes e sutis. Para quem se utiliza e se beneficia deles é um ótimo recurso para exploração e obtenção de lucros. Mas, como toda ação, o resultado vai se revelando cada vez mais. Mais cedo ou mais tarde iríamos ver pessoas cada vez mais infelizes, mais perdidas, mais vazias. Ninguém que é explorado pode ser feliz!
Na minha crença - que não é religiosa - chama-se de Maldição Hereditária repetidos eventos do Mal que parecem passar de geração em geração e isto incluí características de personalidade. Naturalmente estamos todos pré-dispostos a manter - inconscientemente - padrões genéticos e de influência familiar. Observamos isto quando construímos um breve histórico buscando similaridades em bisavós, avós, pais, tios... É quando uma frase vai sempre se repetindo: "Isto está acontecendo novamente!". Histórias vão se repetindo de geração em geração. E esta corrente nunca é quebrada. Ela ganha maior proporção com os fatores externos que formam exploradores e explorados. De genético e atmosférico a abranger uma dimensão muito maior. Por isso diz-se que a família é a base da Sociedade. Questões familiares podem se transformar em questões sociais. Pois a condição de uma Sociedade é reflexo das famílias que a formam.
Então, já não importa saber se o ser humano pode mudar ou não... Não importa como ele pode mudar... A questão passa a ser: como podemos quebrar esta Maldição Hereditária?
A resposta pode ser muito complexa... Se uma centena de pessoas compartilham entre si uma mensagem da ação do Mal, estará mantendo a corrente do Mal? Falar repetidamente sobre o Mal não é de certa forma promovê-lo? Falamos daquilo que acreditamos... Ao reproduzirmos as práticas do Mal estamos demonstrando o quanto acreditamos nele? Pois, quem crê no Bem fala do Bem! Ao mesmo tempo, nossa postura de negligência e inércia não acaba mantendo os elos de maldade?
Atualmente por noite na cidade de São Paulo são assassinadas mais ou menos de 10 à 30 pessoas em uma guerra entre polícia e marginais. Em uma Sociedade com uma Constituição e leis definidas, chega a ser inconcebível que criminosos tenham tanta audácia e percam o medo da lei. Não é estranho então pensar que há um grupo interessado em manter este caos violento para algum propósito. Do mesmo modo que a educação e saúde pública já demonstram explicitamente que tem como intenção manter seus dependentes no nível em que se encontram. Assim como as religiões estão mantendo as desgraças humanas - mesmo que adormecendo-as - para manter seus dependentes. Assim como as empresas e o comércio procuram manter seus consumidores dependentes... Sem tantos dependentes de algo, políticos não podem fazer promessas, templos religiosos não podem se manter lotados, empresas não faturam bilhões, polícia não tem desculpa para exterminar criminosos, e criminosos não podem ter 'liberdade' de atuação pois os elos são essenciais para manter uma corrente forte. Até em alguns cursos de universidade isto é descrito mas não como uma anomalia grave na Sociedade mas, como tática de empreendedorismo.
Para não parecer 100% pessimista, diria que por enquanto, você jamais verá uma empresa realmente preocupada com seu bem estar e a qualidade do que você consume. Caso contrário, nossos rios e córregos não estariam repletos de embalagens de produtos: as próprias empresas reciclariam suas embalagens. Você jamais verá uma religião realmente interessada em sua felicidade: caso contrário, seriam específicos em seus ensinamentos e jamais veriam-se dissenção ou julgamento, muito menos frequentadores assíduos infelizes. Você jamais verá políticos realmente bem intencionados e com vocação para servir a população: caso contrário já haveria um sistema padrão de administração pública e a tal nova classe média já teria existido há anos atrás. Você jamais verá justiça: caso contrário assassinato seria assassinato, roubo seria roubo, violência sexual seria violência sexual, crime seria crime independente de quem, como e porque são praticados.Você jamais verá o fim do tráfico de drogas, de armas e de pessoas: caso contrário isso já não mais existiria, pois solução para tanto há! O próprio governo autoriza e legaliza cigarro e bebidas alcoólicas mesmo sabendo que o cidadão não possuí instrução suficiente para saber seus próprios limites nem tão pouco as consequências de sua falta de senso. E a sequencia desta corrente pode ir se estendendo infinitamente até que ela retorne ao primeiro elo, revelando um Efeito Dominó, uma ação repetitiva em círculos.
E qual seria nossa parte nisto?Quem somos nós para ir contra um Sistema tão fortalecido, contínuo e forte?Quando o assunto diz respeito a si mesmo, o ser humano é eficiente em ser indivíduo. Mas quando o assunto diz respeito a todos, um indivíduo não tem poder para nada! Não é uma questão, nem uma ideia, é um fato!
Porque se cada indivíduo agisse dentro de sua individualidade tentando quebrar as correntes malditas em sua própria realidade, logo todos os indivíduos juntos seriam uma grande potência contra a fonte originária de tanto Mal. Mas o Ego não leva desaforo pra casa e não raciocina as consequências que podem ser desencadeadas com uma única reação. É tão certo que pessoas estão sendo assassinadas por causa de uma disputa amorosa, por ciumes, por inveja, por uma dívida de R$10,00...
Quando você recebe uma investida de maldade e não entra na mesma vibração, não reage no mesmo nível e não revida na mesma moeda, você vai com estas atitudes quebrando elos que logo farão a corrente ceder.
Se sua família, por exemplo, sofre com um indivíduo viciado, use um pouco de seu tempo para verificar onde está a fonte de onde o problema surgiu, seja na família, seja na atmosfera familiar, seja na genética que nos torna predispostos. Nada disso é desculpa para justificar a continuidade do problema! E nada disto retira a culpa do individuo de ter feito sua escolha pessoal.
Mas uma coisa que foi deixada de ser ensinada há anos atrás é que suas escolhas pessoais só podem ter influência, consequências e espaço na vida daquele que fez a escolha. Em grupo - seja ele qual for - se a escolha do indivíduo afeta o grupo, infringe uma ordem coletiva e todos os envolvidos tem o direito de escolher também se aquele indivíduo pode continuar ou não fazendo parte do grupo.
Seu direito de escolha pessoal é um, seu direito dentro de um grupo é outro!
Não devemos interferir nas escolhas do outro assim como o outro também não pode interferir nas escolhas dos demais!
"Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância
que podemos solucioná-los". - Isaac Asimov
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