Destaque para outras Almas Nuas

sábado, 29 de novembro de 2014

Se você é jovem ainda...



Eu não sou de fazer muitas manifestações quando alguém morre. Deve ser porque apesar da minha idade, eu ainda não consiga processar a ponto de compreender a Morte. Nunca vou compreender como uma pessoa está aqui e de repente, não está mais. É diferente quando alguém faz parte de nossa vida e deixa de fazer: algumas pessoas passam pelo nosso caminho e outras ficam. As que passam sempre sabemos o motivo que as levam embora... As que ficam achamos que sempre ficarão mas, de repente partem e pra onde não sabemos. Mas, afinal de contas: não morremos um pouco a cada dia? Ou não morremos e renascemos a cada dia? Quem vive desconhece a Morte: mesmo morrendo o importante é nunca ter perdido a Vida!!!

Como praticante da Arte, sei que não perdemos apenas o criador de uma série antiga... Aliás muito gente também está sabendo disto! Nunca vi empresas, organizações e grupos de diferentes segmentos expressar tamanha perda. Talvez, porque independente da preferência musical de cada um, do estilo no visual e no modo de vida, da crença, da raça, origem, classe social, cor e tudo que nos torna diferentes todos temos uma criança interior em comum. Talvez, tenhamos perdido a ponte até nossa criança interior...

Várias e várias vezes vi na rede pessoas expressando repúdio com deboche (não sei se sem querer querendo) a todos aqueles que apreciam o trabalho de Roberto Bolaños... E estas mesmas pessoas nunca se deram ao trabalho de questionar como uma série tão repetitiva de efeitos especiais e figurinos ultrapassados conseguiu atravessar o tempo e se manter um sucesso. A mente super criativa de Bolaños era algo muito além do que seu personagem mais importante demonstrava ser embora este, seja completamente a sua mais pura essência...Criticavam como se Chaves fosse estes sucessos instantâneos que surgem do nada e do nada se vão mas, Chaves, mesmo com seus episódios repetidos, conseguiam (e consegue) fazer as pessoas rir como se estivessem assistindo pela primeira vez. Talvez porque só consegue rir aquelas pessoas que não se importam com a presença de sua criança interior. Talvez, tenhamos nos apegado a uma criança crescida que muitos de nós não tem coragem de assumir.

Bolaños foi uma segunda chance dada ao mundo depois de Chaplin em um mundo carente de amor e empatia, tolerância e bondade. Enquanto o humor ignorante apela para a depreciação e desgraça alheia, caras/peitos/bundas, revelando total desprezo com a atual condição humana, Chaves veio tocar em assuntos importantes de nossa realidade com o único apelo capaz de mover as pessoas: a emoção! E sabe? É preciso ser muito humano pra ser tocado na emoção!

Talvez, agora que a nossa querida criança crescida não esta mais entre nós, passemos a olhar com mais profundidade cada mensagem que ele deixou. Talvez agora o vizinho chato, a velha do 71, o caloteiro, a menina chorona e hiperativa, o filho da mãe que vive de aparência e o garoto maltrapilho nos façam enxergar cada um com outros olhos. Por detrás de cada um, dentro de cada casa da vila, havia algo escondido que se refletia nas características de cada personagem. Porque cada um de nós é uma casa em uma vila... E de repente nem sempre o vizinho é chato por ser amargurado, a velha bruxa na verdade é uma pessoa solitária, o caloteiro é alguém que não dá sorte em nada e sabe bem disso, a menina chorona e hiperativa pode esconder uma condição ou carência, a mãe que vive de aparência tenta compensar o filho pela falta extremamente importante do pai e o garoto maltrapilho... Ah! Quantos garotos maltrapilhos e famintos ainda temos, inclusive dentro de nós! 

Era uma vez uma vila no México  onde viviam muitas pessoas problemáticas mas, a que mais tinha problemas era a mais alegre e otimista. 

Que possamos permitir que nossa criança interior saia da caverna onde a aprisionamos. Que o adulto que nos tornamos não continue ensinando que ser criança é um curto período da Vida. Isso! Isso! Isso! Zaz! Zaz! - Shimada Coelho - 29/11/2014



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Se você é jovem ainda... de Shimada Coelho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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