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sexta-feira, 13 de março de 2015

Metáfora Cotidiana


Absolutamente tudo que tenho vivido nesses últimos meses tem me servido como oportunidade para minha auto reciclagem: situações, obstáculos, interações, pequenas atitudes, enfim, cada segundo tem me dado uma preciosa lição.
Ontem meu marido levou-me ao dentista para mais uma consulta. Fomos de ônibus. Eu toda vida detestei ir para qualquer lugar de ônibus mas, depois de voltar a usar a medicação, usar o transporte coletivo passou a ser algo suportável contanto que eu não faça essas viagens em horários de pico. Nenhuma medicação vai mudar minha convicção: é inadmissível que as pessoas sejam transportadas como animais e ainda se conformem com isso.
O trânsito intenso de São Paulo torna qualquer percurso longo e tedioso. O tédio eu quebro refletindo, observando tudo ao meu redor. As metáforas vão aflorando em minha mente: somos veículos - cada um de um modelo - carregando suas bagagens, pessoas, experiências na nossa longa avenida da Vida...
Apesar do ônibus articulado ser bem comprido o motorista dirigia como se conduzisse uma ambulância. A paisagem do lado de fora do ônibus com toda sua poluição visual e excesso de veículos e prédios ia tornando-se uma distorção, uma passada com o dedo em um borrão de tinta. Como um vento violento desfragmentando tudo!
Os carros me pareciam todos iguais até que a imagem de uma antiga Caravan com aquela sua cor tão peculiar me chamou a atenção em meio a tantos carros modernos com suas cores tão repetitivas. Se cada um de nós é um veículo, a metáfora fica cada vez melhor.
Não importa a marca, não importa o modelo, todos me parecem tão iguais. E a maioria das pessoas escolhem praticamente as mesmas cores, não pela discrição do prata ou do preto mas, porque são as cores que todo mundo usa. Raramente alguém se atreve em escolher um branco, um vermelho cuja raridade destaca-se no meio da mesmice caótica do congestionamento.
Lembrei-me que certa vez, escrevi uma metáfora semelhante ao irmos no apartamento de um amigo. Passando pelo estacionamento não pude deixar de reparar que a maioria dos carros eram da mesma cor. A marca é motivo de ostentação mas, aos meus olhos todos me parecem iguais. Aquela sequência de carros diferentes tornando-se tão iguais por causa da mesma cor me trouxe apenas um pensamento: escolhe-se a cor porque todo mundo a está usando mas, escolhe-se a marca para se destacar de algum modo... Questiono-me como destacar-se parecendo tão igual?
Meus pensamentos são interrompidos com a imagem de outro carro, bem mais antigo que a Caravan de cor bronze: um Chevrolet verde piscina com seus cromados reluzindo. Me dou conta de que sei o nome de um carro antigo e talvez o modelo mas, dos carros atuais eu só reconheço a cor... Antigamente cada carro era único: com suas linhas, modelos, cores e características próprias. Hoje em dia, vários detalhes parecem ser imitados pois, um veículo não é mais a cara de seu dono mas, a ilusão dele explorada pela grande concorrência.
A conclusão da metáfora fica clara então: cada pessoa é um veículo. Na multidão de tantos tentando ser iguais para conseguir aceitação em um meio, tão poucos se destacam em suas caracteristicas tão assumidamente únicas.
Hoje em dia, as pessoas vão se apegando a marcas de absolutamente tudo o que consomem na mera ilusão de que tornam-se alguém melhor por conta disto, quando chama mesmo atenção aqueles pouquíssimos que orgulham-se de uma única marca: o próprio nome.

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