Escultura ‘Melancolie’, do artista romeno Alberto Gyorgy
Se vazio está, está desguarnecido?
Desemoldurado, sem munição, imprecatado...
Não julgue ser desprevenido...
Talvez, apenas apunhalado...
De tantos golpes vai ficando desocupado...
Logo o espaço está vago.
Se vazio está, está descontente?
Sem prazer, contrariado, insatisfeito?
Não julgue ser conveniente...
Talvez, apenas desafeito...
Embora não seja um ser perfeito...
A insaciabilidade pulsa no peito.
Se vazio está, será a saudade?
A perda, a ausência melancólica, a falta...
Não julgue ser egoísmo com tamanha maldade...
Talvez, apenas sozinho e complacente...
Pode parecer nostalgicamente carente...
Mas, é apenas constatação: ausente.
Se vazio está, está oco?
Há vácuo, falta ar, absolutamente vazio...
Não julgue intentando dar troco...
Talvez, seja o eterno cio...
Tornando o desejo algo doentio...
Tornando o que era fértil terreno baldio.
Se vazio é buraco?
Hiato, interrompido, intervalo...
Não julgue como ser fraco...
Talvez, sentiu-se profundamente um abalo...
Reduzindo-se a reles vassalo...
Obediente a um mero estalo.
Se está vazio, está fracassado?
Infrutífero, inútil, vão...
Não julgue ser tão frustrado...
Talvez, frequente aposição...
Porque não basta intensa afeição...
Sem concordância e total aceitação.
Se vazio está, é tão insignificante?
Frívolo, fútil, tolo...
Não julgue ser superficial...
Talvez, culpado de dolo...
E se ainda há algum consolo...
É aceita a culpa de 'tolo'.
Se vazio está, está destituído?
Desempossado, exonerado, deposto...
Não julgue por ser facilmente substituído...
Talvez, só cause mesmo desgosto...
O que esperava-se era o oposto...
É preciso ser melhor para ocupar o posto.
Se vazio está, foi entornado?
Vazou, descarregou, derramou...
Não julgue por estar aliviado...
Talvez, a carga além dos limites pesou...
Uma fresta enfim encontrou...
E fluir simplesmente não bastou.
Se vazio está, está desabitado?
Sobra espaço, está despovoado, desapareceu...
Não julgue por deixar o local esvaziado...
Talvez, nada seja exatamente como pareceu...
Em tantas buscas e caminhos se perdeu...
Tentando ser livre e vivo, de repente, morreu!
Karappo de Shimada Coelho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://shimadacoelho.blogspot.com/2020/04/karappo-kara.html.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seja Bem vindo!
Obrigada por comentar!