Destaque para outras Almas Nuas

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Karappo (Kara)

Escultura ‘Melancolie’, do artista romeno Alberto Gyorgy


Se vazio está, está desguarnecido?
Desemoldurado, sem munição, imprecatado...
Não julgue ser desprevenido...
Talvez, apenas apunhalado...
De tantos golpes vai ficando desocupado...
Logo o espaço está vago.

Se vazio está, está descontente?
Sem prazer, contrariado, insatisfeito?
Não julgue ser conveniente...
Talvez, apenas desafeito...
Embora não seja um ser perfeito...
A insaciabilidade pulsa no peito.

Se vazio está, será a saudade?
A perda, a ausência melancólica, a falta...
Não julgue ser egoísmo com tamanha maldade...
Talvez, apenas sozinho e complacente...
Pode parecer nostalgicamente carente...
Mas, é apenas constatação: ausente.

Se vazio está, está oco?
Há vácuo, falta ar, absolutamente vazio...
Não julgue intentando dar troco...
Talvez, seja o eterno cio...
Tornando o desejo algo doentio...
Tornando o que era fértil terreno baldio.

Se vazio é buraco?
Hiato, interrompido, intervalo...
Não julgue como ser fraco...
Talvez, sentiu-se profundamente um abalo...
Reduzindo-se a reles vassalo...
Obediente a um mero estalo.

Se está vazio, está fracassado?
Infrutífero, inútil, vão...
Não julgue ser tão frustrado...
Talvez, frequente aposição...
Porque não basta intensa afeição...
Sem concordância e total aceitação.

Se vazio está, é tão insignificante?
Frívolo, fútil, tolo...
Não julgue ser superficial...
Talvez, culpado de dolo...
E se ainda há algum consolo...
É aceita a culpa de 'tolo'.

Se vazio está, está destituído?
Desempossado, exonerado, deposto...
Não julgue por ser facilmente substituído...
Talvez, só cause mesmo desgosto...
O que esperava-se era o oposto...
É preciso ser melhor para ocupar o posto.

Se vazio está, foi entornado?
Vazou, descarregou, derramou...
Não julgue por estar aliviado...
Talvez, a carga além dos limites pesou...
Uma fresta enfim encontrou...
E fluir simplesmente não bastou.

Se vazio está, está desabitado?
Sobra espaço, está despovoado, desapareceu...
Não julgue por deixar o local esvaziado...
Talvez, nada seja exatamente como pareceu...
Em tantas buscas e caminhos se perdeu...
Tentando ser livre e vivo, de repente, morreu!




Licença Creative Commons
Karappo de Shimada Coelho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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