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segunda-feira, 4 de maio de 2020

Olhando Para o Nada


Shimada sem noção de como se prender a ponteiros e folhas mensais, vai se perdendo em meio a vastidão de coisas que sabe fazer, começa a fazer e nunca termina. Das poucas coisas em que ela ainda se dedica, vai se afastando, sentindo uma impotência em suas capacidades de expressão.

O único sentido que ainda parece intacto, desde quando ela começou a explorar a horta no quintal de sua infância, é a visão. Os olhos são a única porta que a permitem o "Sentir"... Sentindo, são os olhos que também vão mais longe do que seus pensamentos podem ir.

As ideias ainda fluem como que de uma fonte incessante infinita, mas, ela não sabe como trazer tudo para fora... Seu universo pessoal começa a se transformar em um acúmulo de ideias distorcidas, por estarem amontoadas umas as outras. 

Os ouvidos continuam abertos, mas, condiciona-se cada vez mais a ouvir, ouvir e ouvir... Talvez, a única função dos ouvidos seja esta: como se expressar por eles?

Um dia, ela teve a impressão de que seus lábios estavam costurados, mas, estavam quase totalmente colados pela falta de uso. Se os move, logo é interrompida: o movimento dos lábios é agradável ao olhar, mas, o que se manifesta por eles parece não ser interessante a ninguém. Todo mundo acredita que o que tem para dizer, expressar, contar, blá, blá, blá é sempre mais importante ou interessante do que pode fluir por estes lábios entrando em estado de paralisação...  Até para comer, mal se movem porque mal comem...

As mãos sentem com muito mais intensidade, mas, se  movem cada vez com mais dificuldade... Vai perdendo a habilidade... Vão se tornando solidárias aos lábios secos e também não querem mais se expressar. "Falem com minha mão: ela não tem ouvidos!". Falem o quanto quiser, elas já não querem falar mais...

E na vastidão de prateleiras repletas de temas colecionados ao longo dos anos que ninguém se interessa em conhecer, a poeira não cobre nada porque em seu universo nem poeira pode entrar.

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