Destaque para outras Almas Nuas

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Sem Vontade de Me Encontrar de Novo

Eu aprecio uma sobremesa de chocolate para quem sabe a tristeza que se instalou em mim desapareça cada vez que sinto o prazer do doce descendo pela garganta... A garganta que engole tantos 'sapos', que entala tantos vômitos, que sufoca com tanto amargor..

Eu me vejo perdida novamente e estou farta disto. Quando lembro minha idade, o consolo de que tudo se resume a uma temporalidade entediante me cobre...

Eu deveria parar de atribuir responsabilidade a coisas e pessoas, insistindo em procurar algo onde eu possa me segurar... O que coisas e pessoas não sabem é que não espero nada delas... Não crio expectativas... Tudo é absolutamente decepcionante: se não é, em algum momento será! Até seu sonho mais lindo, aquele que te serve como ponte até seu universo pessoal, pode se dissipar feito fumaça... Até seu maior desejo, seu mais cobiçado objetivo, sua incansável busca pode se transformar de um momento ao outro, de uma vírgula a próxima palavra...

Minha mãe dizia que eu esperava demais, que eu acreditava demais, que eu sonhava demais... Acho que ela tinha razão... O que ela não sabia é que havia um bom motivo para isso...

Acreditava que meu modo de enxergar o mundo é o que o torna cinza diante de mim...Infelizmente, todos os véus caíram e o que enxergo é a realidade assim como ela é. Tudo sempre será o que é. A Humanidade não vai mudar: esta espécie tem a opção de não evoluir. Mesmo que um daqueles humanos tão raros se atrevam, não fará diferença alguma a diferença que manifestam... Completamente desnecessário investir tempo e energia na tentativa - que com certeza será frustrada - em tentar mudar alguma coisa...

Eu não sei mais o que estou fazendo neste mundo... Eu não sei mais pra que toda esta bagagem... Eu não tenho mais onde me segurar, principalmente depois de comprovar que realmente tudo neste mundo é passageiro, tudo possuí prazo de validade.... Nada, absolutamente é permanente... E no fundo, mesmo que seja inconscientemente, todo mundo sabe disso, caso contrário, não se acomodariam tanto em sua área de conforto. Levantar um plano de fundo colorido, com belo cenário que impeça a visão da boçalidade humana é solução prática e rápida! Fingir, encenar, ignorar, deixar pra lá é com certeza tão mais prático! De outra forma, aquela infernal pergunta que martela na mente como uma tortura vai ficar ecoando: "Pra que eu sirvo, pra que estou aqui!".

Bem, eu já descobri qual minha função terrena... Sou um ser lúdico que favorece toda esta ilusão, apenas mais uma peça do jogo de alguém. Substituta, tapa buraco, improviso, "o que tem pra hoje", a que ainda dá um caldo, a que tem alguma serventia (se não for nisto será naquilo), a fossa pra dejetos e fluídos, o mictório para receber o vômito, a que ouve, ouve, ouve, a que abaixa a cabeça, a que concorda, a que se submete, a qualquer coisa, menos aquilo que de fato é.

O erro é meu e só meu! Minha mãe vivia me culpando por tudo de errado que acontecia... Eu me questionava se havia um fundo de razão nisto... As palavras  depreciativas que ela gritava não ecoavam apenas pela casa... Foi se espalhando pelos anos, pulando de boca em boca... Motivos diferentes desencadeavam a mesma lista de palavras: "você nem é mulher", "você é louca", "não preciso de você pra nada", você não serve pra nada", "cresce retardada!", "você só é um bagaço que ninguém quer mais por perto", "deixa de ser criança"... Se tantas pessoas pelo meu caminho repetiram esses mantras - nem sempre com estas palavras exatas, pois, há tantos modos de dizer a mesma coisa - todo mundo está certo, possuindo a mesma opinião sobre o óbvio e eu sou o óbvio que está errado...

E nisto, onde mais me agarro, mais vai me matando pouco a pouco... Vou me tornando o que ouvi por anos, anos e anos... Invisível... Cada vez mais muda... Ainda sem saber como me portar com tantos seres elevados e evoluídos tão certos e cheios de si... Apenas trapo humano... O lençol encardido que se estende sem nada embaixo... Um reles fantasma vagando de cômodo em cômodo... Um espírito errante que ninguém vê, ninguém ouve.. Quem acaba se afogando no  Mar do Esquecimento... Sempre me deixam partir... Sempre me deixam... Porque ninguém nunca volta...



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja Bem vindo!
Obrigada por comentar!