Destaque para outras Almas Nuas

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Olá preciosos!

 Resolvi dar o ar da graça, rs. Eu não apenas parei de atualizar o blog como também, exclui meu perfil da rede social (Livro de Rostos). 

Certo dia, me deu tipo um estalo na mente: Eu não tinha nada para dizer sobre nada, eu não queria mostrar nada da minha vida, mas, havia como que uma obrigação inconsciente para que eu estivesse logada ali. Me dei conta de que acabava publicando qualquer coisa para apenas gerar conteúdo, para dizer "estou online" ou "meu perfil ta ativo", coisas assim...

Aquele estalo se expandiu! Comecei a me dar conta que aquilo para mim (euzinha) era uma prisão. Assim como tantas tarefas do cotidiano acabam sendo automáticas pela frequência que as realizamos: o corpo tem memória. Acessar a rede social foi inserido de alguma forma entre os hábitos diários. Todo santo dia a gente escova os dentes, toma banho, lava uma louça, come, arruma a cama entre outras coisas e é tudo tão frequente que quase podemos fazer de olhos fechados. Fiquei preocupada em perceber que sem decidir, sem escolha, automaticamente, estava logando a rede. Tudo o que fazemos repetidamente é um bem que fazemos a nós mesmos e até a quem nos cerca... Mas, qual o benefício de "bater cartão" na rede social?

Rede social não é feita apenas de fotos de momentos construídos tentando mostrar uma realidade desejada, mas, inexistente... Publicar opinião sobre tudo tornou-se sinônimo de inteligência ou intelectualidade, mas, todo ser é inteligênte (inteligência não é exclusividade de poucos) e intelectualidade é gerar na própria mente uma ideia a respeito de algo sem a influência de terceiros, sem ser reprodutor da conclusão do raciocínio de outros.

Memes tornaram-se um modo disfarçado de "tirar o sarro" dos outros. Falar de política, um recurso de acalmar a própria consciência, porque é mais fácil falar do que ir e fazer algo a respeito. Ainda assim, o mais preocupante é a necessidade explicita de aprovação, a dependência de elogios e ela é comprovada quando uma crítica afeta tanto alguém. E para muitos desbocados que rebatem críticas, o disfarce de "nem ligo" esconde o inconformismo por ser contrariado, o desrespeito por opiniões contrárias, a extrema necessidade de estar absolutamente certo.

Nem dá para listar toda toxidade da rede social... Neste tempo todo afastada dela, fui passando por um processo de desintoxicação! Percebi que quando eu logava e dava de cara com o Feed, eu ia ficando pra baixo... A rede tornou-se válvula de escape para descarregar todo tipo de frustração disfarçada de qualquer coisa. Em um único comentário, eu sentia o ódio da pessoa que o publicou. As supostas opiniões políticas pareciam gritos enraivecidos. As contradições do que é dito, feito e mostrado me faziam perguntar em que mundo eu estava! Sentia minha energia vital sendo sugada... Quase pirei ao tentar compreender porque a rede social estava mostrando propagandas de buscas que eu havia feito fora dela.

Eu nasci em uma época em que apreciar, contemplar a Natureza ainda era hábito. As mãos eram mais hábeis e tinham muito mais funções do que apertar botões. Pude conhecer o que é realmente respeito mútuo. A solidariedade nunca dependia de uma catastrofe com selfie: a vizinha fazia um bolo de chocolate que só ela tinha a receita e levava a metade pra nossa casa. Se apenas um dos moradores tivesse tv, todos os demais que quisessem podiam chegar para assistir e ainda tomar um café... Eu via o mundo através de livros. Claro que, vê-lo através do PC vai muito além, ainda mais pra quem nunca poderá conhecer todo o mundo. Mas um perfil de rede social não é o mundo todo... 

Eu ainda tenho celular porque há assuntos de extrema importância que exigem que eu o tenha... Mas, sonho com o dia que eu possa tacá-lo da parede. Eu me lembro quando meus pais ditavam as cartas para nossos familiares e a ansiedade esperando a resposta. Um dia, o telefone tornou a comunicação e as notícias mais rápidas. Não demorou muito para eu perceber que não gostava de telefone. Às vezes, você estava ocupado e o telefone tocava e do outro lado, tanto assunto sem hora pra acabar. Outras vezes, você precisava estar fora e o telefone tocava o tempo  todo. Quando enfim retornavámos, alguém ligava reclamando que ligou o dia todo e ninguém atendeu. Antes do tempo de surgir a necessidade de se erguer muros e cercas, qualquer vizinho chegava na porta sempre aberta pra saber como ia tudo. Depois, tudo mudou: o acesso ao outro foi se limitando.Fomos nos fechando cada um em seu mundo. Quando alguém chegava, era igual aquela ligação bem no momento em que estavamos ocupados...

Ai inventaram o celular... Sabia que eu não saio levando comigo o celular? Se eu saio é porque tenho algo importante pra fazer fora de casa, então, pra falar comigo é preciso esperar eu retornar. Estando em casa, se eu estiver ocupada, pode mandar trocentas mensagens via app: se eu estiver ocupada não atendo. Aquela bostinha de telefone fixo evoluiu e agora, pode-se interromper todo mundo o tempo todo e pior, todo mundo atende rápido. É tipo visita fora de hora...

Eu caminho pelas ruas e observo quantas e quantas pessoas estão com o foco na joça do celular... Me sinto anormal, porque olho o céu, as nuvens, as árvores, paro quando ouço o canto de um pássaro... Não me preocupo de estar mal vestida, fora de moda, descabelada: ninguém vai me ver. O celular tornou-se uma prisão. Absolutamente tudo da sua vida é colocado ali. E a vida é o que está dentro e ao redor de nós... É um pulsar, não cliques e notificações...

Eu experimentei tanta coisa boa depois que exclui meu perfil. Eu havia me esquecido de quanta coisa boa a vida dá todo dia. Lembrei de quantas coisas poderia fazer em um dia só, quantas coisas poderia sentir intensamente, viver intensamente... Eu lembrei que não preciso fotografar tudo o que aprecio: eu tenho memória!

É... Não sei se ou quando voltarei para a internet... 




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