Destaque para outras Almas Nuas

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Mas, afinal... O que há dentro de nós?

 

Resposta ao amigo que segue este blog RICBrSp (Ricardo) sobre o texto "O que há dentro de nós?" - achei o comentário bastante inspirador! 


Vamos começar esclarecendo a "criação cristã". Meu avô era budista de Okynawa quando veio para o Brasil. No período da Segunda Guerra e por alguns anos após ela, durante o Militarismo, as religiões orientais consideradas 'pagãs' foram proibidas.

Quando meu vô se instalou no Brasil e formou sua família, fugindo do prenúncio de um conflito em Okynawa, houve uma obrigatoriedade (intervenção militar e religiosa) de que os japoneses deixassem suas crenças e se convertessem ao catolicismo, sob pena de a não conversão ser considerada como traição ao Brasil e suspeita de espionagem. Não sei afirmar se foi desta forma em todo o país, ou se, foi da mesma forma em todas as cidades e estados.O que sei é que iniciou-se em determinado período, uma perseguição aqui no Brasil contra italianos, alemães e japoneses. Os japoneses foram mais perseguidos que os demais devido a relutância em renunciar a própria crença que está associada a própria cultura e por serem discriminados, assim como os negros, sendo "os amarelos". Vale ressaltar que, as histórias da vida do meu avô ouvi durante minha infância através dele mesmo, mas, lamentavelmente, criamos um péssimo vício de comunicação: meu avô falava em japonês comigo e eu compreendia, mas, respondia em português porque ele compreendia. Muitos anos depois, quando morei no Japão, tive dificuldades em desenvolver a língua fluentemente devido a isso. Estranho sim, não tente entender, rs.

Sendo assim, meu avô e sua família foram obrigados a seguir a religião cristã. Anos mais tarde, não sei dizer precisamente quando, houve uma revogação e os adeptos do budismo puderam voltar a ter seus oratórios em casa e logo mais, a frequentar os poucos templos existentes. 

Dentro da cultura japonesa há as obrigações dos primogênitos. Quando nasci, meu avô morava e era cuidado pelo filho mais velho dele. Eu fui nomeada a neta mais velha por ter nascido próxima a meu avô: na casa vizinha dos fundos. Em resumo, a base de meus cinco primeiros anos de vida foi o budismo: era pedido que minha mãe me levasse nos horários de oração ainda bebê. A intenção de meu avô era que eu me tornasse sacerdotiza e herdeira do oratório após o falecimento de seu filho mais velho "se", ele seguisse o budismo. Mesmo antes de aprender a falar, meu avô passava os ensinamentos...

Embora entre meus cinco e seis anos minha mãe tenha se convertido a uma igreja cristã - que frequentou por toda a vida - e me obrigado a ir com ela - onde fiquei até completar a maior idade - a base não apenas da minha crença, como também, de tudo o que acredito e procuro viver na prática vem dos meus primeiros cinco anos de vida. Assim é com todo ser humano: tudo o que é dado as crianças durante seus cinco primeiros anos de vida será a base de sua personalidade, crença e modo de vida.

Tendo esclarecido tuuuudo isto, a minha busca pela "Alma" não surgiu da criação cristã: várias religiões, culturas e filosofias voltam a atenção para este tema que é citado há séculos, ou, desde sempre!

Sim, sempre fui muito curiosa sobre tudo e precocemente tornei-me adepta sem influências externas da Experimentação: eu sempre busquei respostas para minhas questões comprovando-as por mim mesma e sem a idéia ou pensamentos de outros. Eu sempre busquei chegar eu mesma a conclusão de um questionamento.

Lembro-me como se fosse ontem quando a mente infantil começou a suspeitar que das duas uma: ou a Alma não existe ou não podemos enxergá-la, sendo ela invisível. É assim que funciona quando se busca respostas pra tudo: quando achamos que encontramos a resposta, um novo questionamento surge. É isto que faz com que sejamos constantes aprendizes até o fim de nossas vidas.

Aprendi a ler entre quatro e cinco anos... E eu lia o tempo todo sobre qualquer coisa disponível. A única conclusão plausível que cheguei naquela época é que, objetos não tem alma porque alguns possuem "órgãos" bem diferentes dos nossos e outros são completamente ocos. Os objetos com "órgãos" diferentes precisam de algum tipo de energia para estarem "vivos", dependendo de nossa vontade e nossa ação para que recebam energia suficiente para "viverem". Então, concluí que apenas humanos e animais poderiam ter Alma por terem órgãos semelhantes e não precisavam de um fio ligado a tomada ou uma pilha inserida em algum orifício para funcionar. De todo modo, eu nunca desisti de buscar a existêcia da Alma e hoje minha resposta seria e é diferente, rs... 

Se antigamente eu concluí que os objetos, por não terem Alma, eram "mortos", hoje já não penso mais assim. Fótons, elétrons, neutrons, átomos e grandes moléculas possuem consciência (vide Experimento da Dupla Fenda).  Objetos são massa, matéria, portanto, constituidos destes elementos citados.  Uma pedra é um ser vivo? Sim, mas, uma pedra é uma consciência que dorme todo tempo. Ela desperta quando uma reação química ou física age sobre ela. Assim, da mesma forma são os objetos. Para visualizar melhor o que digo, procure, por exemplo, como são as moléculas de vidro ou de cristal: emboram pareçam semelhantes na aparência, a constituição molecular é diferente. Enquanto são vidro e cristal, estas moléculas repousam sempre no mesmo estado como as pedras. Se houver uma reação , por exemplo, física sobre elas, irão acordar e se modificar ou se reagrupar. A presença da conscência é a pista para existência da Alma: vide qualquer filosofia ou cultura.

Pessoalmente, considero a consciência a mente do corpo físico, desta casca feita de ossos e carne. O subconsciênte seria a mente de outra parte dentro de nós, o que realmente somos! Um dos trechos mais lindos que lí em referência sobre isso é do ateu José Saramago: “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”.



A crença na Alma nada tem a ver com religiosidade.... Os questionamentos sobre esta parte dentro de nós que não sabemos definir começou com os grandes filósofos e quem garante que não foi muito antes deles?  Esta crença surge durante a busca do Auto Conhecimento, sugerido por Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". Ninguém possui conhecimento de fato se antes não conhecer a si mesmo, porque, para conhecer o que está além de nós mesmos é necessário algo em vias de extinção: Empatia! Só compreendemos o que está ao nosso redor desta forma...

E é durante este processo, em que se conhece cada vez mais de si mesmo, e consequentemente muda-se o modo como vê e interpreta o mundo a sua volta, que percebe-se a presença de algo dentro de nós que ninguém explica, apenas  sente... Esta presença é responsável por duelos, debates, conflitos entre consciente e inconsciente, entre emoção e razão, entre individualidade e coletividade, entre Ser e Ter e por ai vai...

Talvez, meu amigo, eu esteja longe de descobrir a Alma de modo a apresentá-la e comprová-la a todos, mas, para mim mesma, já alcancei a consciência de que de fato há algo dentro de nós que uns chamam de Sopro de Vida, Essência, Espírito, Energia e tantos nomes, e isso é que o de fato somos! Nós, verdadeiramente, não somos a imagem refletida no espelho.... Aí já é outra conversa, rs.





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