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sábado, 23 de julho de 2011

Oculta



Certa vez aquela voz rouca prendeu minha atenção e minha mente recapitulou uma história ouvida, contada por um eco do passado que relembrava as vozes dos irmãos negros que cantavam suas dores ao som do gospel nos campos de alfazema e algodão.

Voz firme e segura... Carregada de dor... Ouvi quando era ainda criança que a música é a única coisa aqui na Terra que é eterna: existia nos céus antes da Terra e depois dela continuará existindo. As expressões artísticas são um recurso divino para aliviar a dor.

Dor... Sofrimento... Angústia... Chamem como quiser... Só quem sente sabe a intensidade do latejo. E sabe também que é a única coisa que justifica o fundo do poço, o abismo escuro, a autodestruição...

Só quem sente aquela dor tormentosa e sufocante dentro do peito é que sabe que ela torna-se o foco de sua vida. Criam-se buscas, objetivos, fugas, atalhos para livrar-se dela... O resultado parece ser sempre o túnel sem fim e sem luz... Veste-se uma máscara que combine com o evento, talvez aquela de boca escancarada! Se a lágrima descer ninguém vai notar!

Parece absurdo dizer: no pior momento da solidão dolorosa ainda há quem apareça para dar o último empurrão que arremessa ao abismo, ou aquele que coloca uma pedra que fecha pra sempre o poço. Impiedosos cruéis...

É grande a quantidade de pessoas que sofrem essa dor neste exato momento... E com certeza, seus olhos inchados procuram ao seu redor um sinal, um vulto, um alguém... Que seja uma voz... Uma mão estendida...

Qual o custo da piedade, da misericórdia, da compreensão e da compaixão para que estejam tão ausentes de nosso meio? Uma pequena dose que fosse de cada uma delas faria tanta diferença... Seria capaz até de mudar o curso das coisas!

A dor é tão massacrante que dá forças aos braços e mãos para desferir em quem a sente golpes profundos e violentos... Quem sabe uma garrafa da mais ardente, um cigarro ou uma carreira ou ainda a lâmina que desenha linhas inventadas na pele... Viver é o que mais se quer, mas é preciso fazer a dor passar... Ferir o corpo, mutilá-lo e dissecá-lo procurando o botão de autodestruir para quando ela atingir seu auge. Qualquer rasgo na carne será menor que a dor que grita, por isso nem assim passa.

Espera-se o fim... Afunda-se de vez no lamaçal, pois os demônios interiores se agitam e os mundanos cruéis assistem não abrindo passagem... São sádicos! E por que sentem tanto prazer na desgraça que definha um semelhante? Por que?

Porque quando escolhem um Judas que possam malhar, desviam a atenção... Denegrir o outro ajuda a esconder as próprias falhas... Eu vejo nos outros o que identifico... Identifico porque reconheço de experimentar...

É fácil falar enquanto se consegue esconder a mentira do sorriso falso... É simples, pois assim me convenço de que há coisa pior que eu mesma... É fácil... Difícil é ser capaz de estender a mão, ajudar a erguer, recompor... Isso é perigoso... Faz cair a máscara que esconde minha verdade...

Batam palmas, mundanos! Pois a omissão foi impiedosa feito a dor e depois dela não há mais jeito...


Licença Creative Commons
A obra Oculta de Shimada Coelho foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.

Um comentário:

  1. UMA VOZ ROUCA
    UMA JOVEM QUE QUERIA VIVER E MORRER AO MESMO TEMPO
    MAS A MORTE VENCEU
    SENTI MUITO A PERDA DESSA VOZ INIGUALÁVEL.

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