
"No seu pequeno mundo,
Das cavernas, oriundo,
Os sinos são de alumínio
Ecoando em seu domínio,
Tocando cotidianamente...
É rainha falida e destronada,
Perdida, enfim encontrada,
Em seu castelo tão precário,
Constante santuário,
Com torres de louça suja...
A atmosfera é caótica,
Real distorção ótica:
Desordem... Desordem... Desordem...
Vaza os próprios olhos enquanto todos dormem,
Arranca-os da órbita com as mãos e os atira,
Em seu metro quadrado gira...
Feitos as ondas em vai e vem, perde-se e gira...
No seu universo oco há uma ilha,
Com uma única trilha,
E é lá que mora a perdida,
Para lá correu fugida...
Dois passos e chega ao outro lado -
Pensamento alado...
"- É deserta!" - diriam os tolos,
Falta-lhes na caixa miolos...
Mas ela pode ver dançando Palmeiras,
Um arco-íris nas Corredeiras,
O Sol que nasce e sua luz dura quanto puder
- Até para o Sol há anoitecer...
Vê a Lua arrastando um manto negro,
Cobrindo o mundinho egro,
Sempre é tão noite e menos dia,
Desditosa fotofobia,
Pois a imensidão não é azul, é negra
Junta sacos de papel branco,
Da cor do que é mais franco,
Migalhas que sobraram do pão
Antes afogadas na sopa rala do caldeirão
Que não alimenta - só engana a fome...
Recorta, costura ao meio e faz um caderno,
Costurando também a entrada do próprio inferno,
Finge escrever poesias,
Garimpando nas tristezas, alegrias...
Mas suas linhas são enigmas,
Sânie fluindo dos estigmas,
Que satisfazem seu vazio...
São segredos e mistérios que se perderão no tempo,
Da caprichosa vida mero passatempo,
Nunca entenderão, muito menos decifrarão...
Sem esperança de absolvição,
Criou muralhas altas com jornais velhos,
Flagelando-se com relhos,
Para esconder-se de si mesma...
O pico mais alto da montanha de louça,
Não importa se usada toda a força,
É o mais alto que chegará,
Pois que seja lá o que virá,
Seus sonhos têm asas, mas voam no raso,
Rumando em direção ao acaso,
E acabam abocanhados pelo Devorador...
Mundinho pequenino...
Infértil ovarino...
Os lençóis esvoaçam alvos no varal,
Esticado no meio do quintal:
São almas imaculadas voando livres...
Na rotina grande acontecimento,
É todo seu divertimento,
Entre um e outro gole,
Esquecida por sua prole,
No cálice que também tem asa,
A bebida escura também é amarga,
Mas adoça no final...
Deixa o corpo bem atento
Para o vício alimento
Que dissolve as frustrações,
Juntamente com os pulmões,
Como a fumaça no ar...
Olha o relógio sem ponteiros:
Foram dizimados seus cavaleiros,
Então cola ali borboletas e passarinhos,
Para que ali façam ninhos,
O tempo voa então por que contá-lo?
Ocupa apenas os espaços...
O Espaço é a lixeira que recebe
De boca aberta tudo o que não serve...
O coração é antiga cristaleira,
Coberta com tanta poeira,
Onde está guardado para eternidade,
(mas não para a posteridade)
O que nunca vai usar, talvez por não servir pra nada...
Sua alma escapa pouco a pouco,
Sorrateira feito um Leopardo solto,
Na ponta do cigarro que arde,
Depois já será tarde:
Não é mais ardente que o Inferno interior...
Lavou seus pecados na água da pia,
Olhou todos eles e em escárnio, ria...
Ouviu os ecos das vozes do além,
Riu de todas elas também,
Indiferente, pois seu pequeno mundo ruía..."
Ao Acaso de Shimada Coelho é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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