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sexta-feira, 17 de abril de 2020

O Portal na Terceira Paineira



Elas ainda estão lá: as quatro Paineiras! Quando seus frutos de cascas duras e espinhosas se abriam, lançavam painas - como punhados de algodão - que eram levadas pelo vento, espalhando-se pelo bairro, dando a todos uma mera ilusão do que seria o cair da neve...

Hoje elas não parecem tão majestosas como um dia foram na minha infância. Entre 6 e sete anos, estar embaixo de uma delas era como estar diante de uma centenária Sequoia. Naquele tempo os troncos pareciam mais largos e as copas bem mais altas. É o normal na visão de uma criança de baixa estatura para sua idade.

Entre seis e sete anos, estudei no que era chamado de 'prézinho', pré-primário e no primeiro ano. Obviamente estudei ali até concluir o Ensino Fundamental, mas, o episódio que irei contar passou-se exatamente nestes períodos.

Eu era uma criança diferente, que procurava isolamento, então, não me enturmava com os outros alunos, mesmo com as visitas frequentes a psicóloga da escola. Assim que podíamos ir para o lado externo da escola, eu corria para baixo da segunda Paineira.Hoje, está bem cimentado ao redor delas... Naquela época, ao redor era apenas terra, o que permitia que as raízes ficassem expostas. Eram raízes enormes - ao menos no meu ângulo de visão infantil! Enrolavam-se sobre a terra e me pareciam que formavam um ninho gigante, embora tantas vezes serviu-me de colo também. Eu corria para lá, enfiava-me ali no meio das raízes e sentia-me protegida. As raras vezes que alguém passava - naquela área costumavam ser funcionários - nem me viam ali. Ali eu abraçava a árvore, eu lhe contava histórias, eu falava com uma pessoa imaginária, eu me acomodava e tirava um cochilo. Ali, eu refletia... Tinha já consciência de que um dia iria crescer. E iria conhecer o amor da minha vida! Eu não sabia quem ele era, mas, sabia que ele morava do outro lado do horizonte. Eu não sabia como chegar até lá, mas, sabia que talvez uma porta mágica pudesse se abrir na terceira Paineira e ele abriria esta porta bem devagar e me chamaria: "-Psiu! Oi! Encontrei você!". Sentada ali entre as raízes, eu sonhava todo dia com um amor que nem sabia se existia realmente. Quando as painas eram levadas pelo vento, eu pedia a Paineira: "-Avisa a ele que estou aqui!".

Eu tinha uma certeza dentro de mim de que ele já me procurava e eu esperava por ele... Coisa de criança, você pode imaginar... Sonhar é de graça! Desejar atrai! Porque desejei ser escritora,mas, não sonhei em ser... Desejei o amor da minha vida a vida inteira, mas, não sonhei em encontrá-lo..."

Trecho de um dos diários de Shimada Coelho de 03/02/2000.

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