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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Sentada em Cima do Muro

 Lembrei-me de uma música do Sérgio Brito (a nova geração não tem idéia de quem ele seja) que dizia "Pare o mundo que eu quero descer!". O mundo continua wonderfull, mas, o Reino dos Homens está mais doido do que nunca! Até versículos bíblicos são usados em campanhas políticas no Brasil e em um sistema político sem palavras...


Sob um prisma histórico ou antropológico poderíamos afirmar que o mundo já esteve pior... Como minha visão também é periférica e "globalizada" eu digo que vai de mal a pior, porque não vemos evolução... Não é questão da crença Criacionista ou Evolucionista: ambas falham quando o ser humano, em vez de se tornar cada vez mais humano, se torna algo que ainda não tem nome... Não é questão de deixar de ser macaco e se tornar homo sapiens e nem posso dizer que se torna um macaco sem pelos para não ofender os queridos e tão admiráveis primatas. Até mesmo na ideologia criacionista fala-se de "um novo corpo", no que eu diria ser um tipo de evolução futura que ocorrerá, mas, este seu corpo tão formidável e belo perderá as características atuais... Não é questão de acreditar ou não em um "deus"...

 Sem a evolução mental - nem falo apenas intelectual - não há evolução se observarmos que perde-se a capacidade de pensar (raciocinar, concluir) por si só, torna-se cada vez mais dependente de algo, mais manipulável, mais condicionável e mais incapaz de encarar um textão como este e, pelo menos superficialmente, ter uma noção do que quero dizer....

Ainda criança, eu visualizava meu mundo como estando a parte da realidade de todos, sendo mantido em uma bolha gigantesca e colorida que, jamais explodiria se eu não permitisse. Dentro da bolha seria meu reino onde minha leis pessoais seriam constituídas para manter aquele refúgio sempre em equilíbrio: o que eu observava ao meu redor e na Natureza contribuiu em muito para isto. Minha mãe ensinava que "dentro de nossa casa podemos o que quisermos, mas, fora dela, devemos respeitar o espaço das outras pessoas, as leis coletivas (que abrangem todos e deveria servir para tornar todos iguais) e a casa dos outros onde não podemos nada do que podemos na nossa casa". Esta foi a primeira inspiração do meu reino.... A segunda é abolir absolutamente tudo que deveria unir, mas, separa. Sendo assim, criou-se a terceira, quarta e quinta: não tenho religião, nem posição política e nem exatamente time de futebol "do coração"- a cada partida escolho para quem vou torcer. 

Eu fui criada com a imposição de estudar a Bíblia: isto durou de entre 5 e 6 anos até os 18. Em liberdade, me permiti continuar estudando . Lembro perfeitamente de um trecho cujo título dizia "Deus condena as dissensões" - em vários contextos esta palavra é citada na versão Almeida...

Meu dicionário Aurélio era e ainda é tão precioso para mim quanto qualquer outro livro, inclusive a Bíblia: "Falta de acordo, divergência, discordância, controvérsia, desacordo, desaprovação, desarmonia, desavença, desconcerto, desencontro, desentendimento, desinteligência, diferença, dissenso, dissentimento, dissidência, dissídio, divisão, separação."

Embora hoje eu tenha uma visão totalmente diferente sobre a Bíblia, a religião cristã e não ter religião, o fato de um Deus (Vontade Maior, Ser Supremo,Brahma, Universo,  Cosmo... ou o nome que você costuma usar) aborrecer-se com a dissensão inspirou a segunda lei do meu reino pessoal... Isto quer dizer que, qualquer coisa que obrigar-me a criar uma separação, a ir contra ao "amor do próximo" e tudo o  que envolve este conhecido termo, eu rejeito e afasto de minhas práticas, ideias, opiniões e convicções. Por sinal, levei isto a um patamar tão alto que, detesto vocabulários ricos: a própria palavra "dissensão" quer dizer tantas outras, quando qualquer uma delas quer dizer apenas uma, então, por que não haver apenas uma neste mar de confusão onde Egos, debates, discursos tentam esconder uma real intenção que não corresponde a palavra?

Perdão, mas, detesto tanta palavra que significa a mesma coisa, sendo distorcida e usada de  modo errôneo, principalmente aquelas que correspondem ao comportamento. Observe a sua volta tanta nomenclatura, sigla, classificação, nível, rótulo.... Tudo isso separa, gera dissensão: branco e preto, pobre e rico, baixa e alto, gordo e magro, feio e bonito, hétero e homossexual, ateu e teísta, esquerda e direita e no final das contas, independente de tudo isso, (tudo isto que são escolhas por direito) antes de tudo isso, todos são seres humanos, pertencentes a mesma espécie. Mas, quando se nomeia, classifica, rotula se divide, onde haverá igualdade na divisão se não se enxerga mais a espécie humana? Perdão mais uma vez, mais usarei um termo bem chulo, esdrúxulo: todos nós sem exceção carregamos dentro da barriga, não um rei, mas, um saco de escrementos...

As profundas reflexões ao longo da Vida, em busca de uma 'verdade' me levaram apenas a  uma conclusão que também se tornou lei no meu reino: "Viva o que você acredita e isto quer dizer, fale, se comporte, pense, aja de acordo com o que você acredita, porque em resumo, tudo o que parte de dentro de nós para fora é simplesmente isto: resultado do que se acredita!".

"-Ah, mas você escreveu artigos onde você blá, blá, blá, blá!" - O espaço que confiou em meu estilo de expressão é livre e independente... Eu escrevi artigos com a liberdade de informar fatos, além de apontar como estes fatos agridem ou distorcem vários direitos, inclusive os Constitucionais. Se seu intelecto não foi capaz de captar isso nas entrelinhas, sinto muito!

Um dia, um caboclo me disse que meus olhos lembravam os olhos de um felino.... Ele pensou, pensou, procurando o nome exato do felino. Ninguém ao redor dele conseguia dar um nome que fosse de encontro ao que ele queria dizer... Eu disse: "- Um Lince?". "- Isso, sim, você é um gato Lince que caminha em cima do muro. Desce do muro, mas, você está entendendo o que quero dizer...".

Sim, eu sempre estive em cima do muro e até já escrevi sobre isto... Criaram a ideia de que, "quem está em cima do muro é indeciso, confuso, não sabe o que quer.". Na verdade, isto é uma imposição opressora para fazer alguém escolher um lado! Em cima do muro, além de ser um espaço neutro, é possível ver os dois lados do muro porque você está em cima dele! Absolutamente tudo o que acontece de ambos os lados você pode observar e tirar as suas conclusões. "Mas, o caboclo disse pra você descer do muro!" - sim, ele disse e disse que eu sabia o que ele estava dizendo...

No vício de nomear tudo, por fim, ninguém vai percebendo que também passa a usar alguns termos ao pé da letra por conveniência pessoal. Se "Ficar em cima do muro" é um termo, uma analogia ou metáfora, está aberto interpretações. Não há nada antes de "ficar" e depois de "muro" para se decretar o significado. Eu interpreto não a frase, mas, a analogia!

Descerintransitivo:movimentar-se no espaço de uma parte mais alta para uma mais baixa.
transitivo direto:percorrer de uma parte mais alta para uma mais baixa.

Gatos caminham sobre o muro e são capazes de fazer isto com muita destreza por possuírem extremo equilíbrio. Em uma gangorra, se o peso pender apenas para o lado esquerdo ou apenas para o direito, não há equilíbrio. Gatos, principalmente o Lince, sempre sabem qual o melhor ponto de observação antes de uma ação. Gatos possuem uma capacidade de observação da ação a ponto de prever o momento exato da própria ação. Gatos quando sempre preferem lugares mais altos, não apenas porque possuem desta forma uma visão geral do ambiente: é um modo de estar em uma área neutra onde não há tráfego de pessoas, onde não há risco de ficar no caminho, onde não será incomodado e onde não vão incomodar, entre outras características que refletem algo chamado respeito! Tanto gatos quanto cães, quando dão aquela espreguiçada que mais parece uma reverência, a fazem por ser uma expresão corporal e possuí um significado, entre elas é uma saudação. Gatos não são anti sociáveis: são lógicos, sinceros e seletivos. Se ele não gostar de alguém se manterá a distância, se gostar pode até pular no colo da pessoa, civilizadamente, simples assim.

Em se tratando de pessoas, a palavra descer é o verbo para o movimento de uma parte mais alta para uma mais baixa. Em uma analogia é curva-se, reverência ou ainda possuir humildade e simplicidade. De uma visão positiva ou negativa também é "descer ao nível do outro" e empatia.


Muro
CONSTRUÇÃOparede robusta de pedra, cantaria, alvenaria etc., us. para cercar determinada área, servindo-lhe de proteção e/ou limite.
POR METÁFORAtudo o que se presta a defender alguém ou algo de dano, ameaça, perigo etc.; defesa, proteção.

Lembro-me do tempo em que não era preciso muros nem cercas e os quintais dos vizinhos se fundiam tornando todos um só quintal. Quando queríamos ir na casa de um vizinho, não precisávamos ir até a rua: seguíamos pelos quintais dos vizinhos até chegar ao destino.

O "progresso" traz melhorias, mas, traz outras coisas consigo: quando uma área progride é possível que quem habita ali progrida também: saneamento básico e energía elétrica é uma grande melhoria para habitantes de uma área. O progresso revela as pessoas que não conseguem progredir e buscam suas fugas... Também destaca quem está progredindo e estes acabam se tornando alvos daqueles que não conseguem... 

Se antes uma cerca só servia para limitar um animal em um espaço, passou-se a haver a necessidade não apenas de cercas, mas de muros. Os muros eram para proteção de cada habitação e eles foram nos separando de nossos vizinhos. Os costumes mudaram após os muros. Se antes não se sabia ao certo os limites dos terrenos, do que era quintal e rua, do que era o quintal do vizinho e o nosso, os limites passaram a ser necessários: não havia mais a vizinha chegando de surpresa na porta da cozinha para um café e um bate papo. Assim como os animais, fomos limitados ao nosso espaço porque haviam aqueles que agiam mal, precisávamos nos proteger deles e eles circulavam livres em qualquer lugar... Um muro protege e o preço desta proteção é a separação e separar é dividir. Centimentros antes ou após um muro erguido poderia desencadear uma desavença por "invasão" ou uso do terreno do vizinho.... Quando se ergue uma  muralha para proteção, se está esperando uma guerra...

O "descer do muro" que ouvi não significava escolher um lado, mas, assumir o lado em que eu estava. Apenas de cima do muro posso ver que quem está de um lado e de outro são iguais, mas, pensam diferente. De cima do muro posso compreender o comportamento individual ou coletivo de um lado e do outro. De cima, posso ver quem passa, quem fica, quem muda de lado e os motivos que levaram a tudo isto. De cima, comprimento, sorrio e compreendo quem esta de um lado e de do outro: não tenho um lado preferido. De cima, todos são iguais e "estar em cima" não significa ser melhor ou ser mais que os outros: significa estar em um terreno neutro.

Descer do muro é ter uma postura e um estado de espírito... É se colocar igual ao demais e compreendê-los, embora não se receba o mesmo porque a visão de ambos os lados é limitada por um muro... Quem está em cima do muro, não vê muro algum: está acima dele e ele está embaixo dos pés....



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