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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Maior que Baudelaire e Rimbaud


 

-=Quando ele disse "Shimada continua sonhando com seu príncipe montado no cavalo branco para salvá-la...", senti todo meu sangue subindo para a cabeça como se fosse lava em um vulcão em erupção! Senti raiva! Senti ira! Qualquer pessoa poderia ter me dito tais palavras, menos ele! Então, em um ato de frustração versus rejeição disfarçada de vingança, fui cruel! Muito cruel!

Aprendi a ler entre quatro e cinco anos de idade. Ainda no antigo pré-primário (vulgo prezinho), uma semana de espera para ir a biblioteca era uma tortura! Todas as crianças eram orientadas a entrar em um determinado corredor, e escolher nas prateleiras mais baixas - adequado a altura - os contos de fadas para leitura... Eu era a única criança que não seguia esta ordem. Na primeira vez na biblioteca, a professora notou minha ausência e pôs-se a me procurar: lá estava eu, em outro corredor, esticando-me toda, na ponta dos pés, tentando alcançar sem sucesso aquele livro que encheu-me os olhos: Tutancâmon!

"- Querida, este livro não é adequado para sua idade. Precisa ler o mesmo que seus amiguinhos!". 

"- Não quero ler aquilo! Quero esse!"

"- Olha só a grossura deste livro! Você não vai entender nada!"

"- Então, vou ficar sem ler porque não quero ler aquilo!"

A professora precisava se manter firme. Se eu não ia obedecer e ler o que estava de acordo para minha idade, então, meu desejo foi atendido e não pude ler também o "livro para adultos"!. Para que eu me distraisse até o fim do horário na biblioteca, foi me dado lápis de cor e uma folha em branco para desenhar. Na outra semana, estava eu novamente no outro corredor... Dona Léia, a professora que era responsável pela biblioteca dizia: "- Que mal há?". E assim, consegui ter em mãos aquele 'livrão' pesado, que demorou algumas (várias) semanas para eu terminar de ler. O volume era muito porque haviam fotos... Toda expedição de Carter e a descoberta da tumba de Tutancâmon foi registrada em fotos preto e branco. Aos seis anos, este foi o primeiro livro que li em uma biblioteca!

Sendo assim, na mente tsunâmica de Shimada não há espaço para príncipes encantados! Nem cavalos brancos porque minha lógica me diz que eles são raros! Eu prefiro refletir sobre a possibilidade de unicórnios e dragões do que príncipes em cavalos brancos...

O que naquela época eu não era capaz de enxergar é que, pra mim, aos meus olhos, de alguma forma ele era um tipo de príncipe. Um ser nobre, não necessáriamente um príncipe! Um nobre sem cavalo, sem carro, sem teto, sem muita perspectiva de vida que conseguia transformar os cenários suburbanos tão caóticos em poesia pura! Eu não era capaz de enxergar para admitir alguma coisa... Então, fui cruel! Desejei decepar-lhe a mão que compunha tão maravilhosamente...

Nunca seja inimigo de um escritor: ele te transformará em um personagem que cause repulsa ao leitor e depois de fazê-lo sofrer muito irá matá-lo! Não, não foi exatamente isto que fiz... Escrevi um texto desaforado, cheio de frustração! E de alguma forma, ele soube que era para ele!

O fio dourado, o vínculo, a proximidade, a intimidade que eu tinha com o príncipe que eu colocava em um pedestal de admiração e que deixou sua coroa para ser boêmio e artista mostrando sua visão dos becos e ruas sujas se rompeu e nunca mais foi conectado!

Eu tive a mais absoluta certeza de que ele é o maior poeta que já li nesta vida, quando no meio da madrugada ele acordou para escrever. Acessou a internet, e enviou o que ele disse ter escrito para mim: "é seu, pode fazer o que quiser"! Não foi o fato dele acordar de seu sono, talvez perturbado, para escrever especificamente para mim... É por suas palavras serem exatamente o que caracteriza um poeta de verdade: há algo místico, uma vidência, uma extrema sensibilidade, um desbloqueio nos limites da carne cuja essência vai além de onde qualquer pessoa poderia ir, inclusive, ir dentro de si e das outras pessoas...

Em pleno século XXI digo com a máxima certeza que depois das grandes mentes poéticas, não houve nenhum como ele! E onde está o magnífico escrito que comprova tão grande talento? Acho que o perdi, não encontro em lugar nenhum assim como aquele poeta que não escreve mais, pois, foi machucado por escritora que não sabe inventar histórias...=-

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