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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Corpo Perfeito



Me auto analiso: tenho vergonha do meu corpo. Eu deveria ter consciência de que sou uma mulher de cinquenta e três anos, com um metro de cinquenta e sete,  que teve três filhos que cresceram à vontade no meu ventre, me deixando com a barriga imensa que mal podia dar conta do peso: meu filho mais velho nasceu com mais de cinco quilos. Tarefas do lar, criar filhos, cuidar de marido, tarefas e mais tarefas: o foco sempre na família e menos em mim. Não relaxamos: não temos tempo suficiente para nós. O "efeito estufa" e a lei da gravidade pega todas as mulheres. Nas discussões com o ex marido, ouvia muito a frase "Você está um bagaço!". Quem me sugou?

Mas, faço uma regressão para anos antes e eu também tinha vergonha do meu corpo, embora ele fosse perfeito: o corpo de japonesa com as nuances do corpo das brasileiras. Não conseguia ficar nua nem diante de minha mãe.  E apesar de crescer ouvindo tantos elogios, eles não me convenciam: eu me achava feia.

Eu também passei pela fase em que desejava ver um brilho nos olhos de um homem ao perceber a minha existência... Eu também dava a última espiada no espelho pra ver se estava interessante o bastante pra chamar a atenção de alguém. A fase passou muito rápido, talvez, porque eu não fosse vaidosa o suficiente para manter estas preocupações. Talvez, porque a introspecção me ensinou cedo que tudo é de dentro pra fora: a suposta beleza não significa nada se você não possuir conteúdo... Ainda assim, diante de um homem, me sinto envergonhada com meu corpo. Mesmo sabendo que uma mulher que envelhece sem nunca ter um filho, irá envelhecer com um corpo "inteirão". Idem para as mulheres que tiveram apenas um filho: é à partir do segundo filho, na maioria das mulheres, que o corpo se deforma.

Mas, se quando eu tinha um corpo de causar inveja, já tinha vergonha, a questão não é a aparência dele, mas, da estima. Mesmo eu sendo alguém que não está nem ai para a opinião alheia, quando o assunto são homens, o modo como eles me enxergam e a opinião que possuem à meu respeito, me incomoda, mas, não o bastante para deixar minha estima igual a um capacho. Ai chegamos no ponto que me intriga... Instiga! 

Esta lá no inconsciente feminino a ideia fixa de que ela precisa estar em um padrão e ter a aprovação masculina. Está enraizado em nosso DNA e no meio em que nascemos e a ideia, é passada de geração para geração.

No esforço de agradar, a mulher sempre está insatisfeita, porque não alcança a sua meta da forma como deseja. Ela quer ser o sol na realidade do homem, quer ser única, quer ser superior e melhor as demais... Talvez por isso, vemos tantas mulheres competindo umas com as outras..

A mulher, o ser castrado que deseja o falo: o pênis. A última palavra, o poder, a força bruta é de quem possui um pênis...Ela só pode tê-lo através de um homem. E os homens sempre estão satisfeitos porque possuem um falo....A mulher, parece não  compreender que ela nunca vai poder ser o pênis de um homem e que todo o impulso sexual é satisfeito para e pelo pênis e não para e pela a mulher... Isso só muda quando um sentimento é a força de atração. E ai, não é o corpo, não é a imagem, mas é o modo de ser, é como enxerga e interpreta o mundo, é como se aceita, como é desencanada, como encanta e dá uma outra perspectiva bem melhor sobre tudo... Prova disso são tantas beldades - inclusive famosas - traídas ou trocadas, não por uma imagem melhor, mas, por uma mulher!

Simone de Beauvoir bem que disse: não se nasce mulher, torna-se mulher! Parir, não faz uma mulher. Um corpo exuberante e cobiçado não faz uma mulher. Ser uma "mulher Lego" - toda montada como um Frankenstein siliconado, também não.Uma mulher é um ser transcendental e um Universo complexo!

Certa vez, um amigo me disse: "Conheci uma mulher linda, perfeita do tipo capa de revista! Levei-a para jantar e ela não tinha assuntos interessantes, mostrando uma futilidade medonha. Mas o pior foi quando a levei ao motel...Ela transava mal pra caramba! Eu brochei ao ver ela atuando as mesmas ações que vemos em filmes pornôs. Não consegui levar isso enfrente... Ela à primeira vista era linda e perfeita, mas, não tinha brilho, não havia hormônio suficiente, sabe?".

E de repente, eu não tenho mais vergonha do meu corpo. E apesar da flacidez resultante de um emagrecimento constante, da perda de massa muscular e as tantas estrias que me trazem a terna lembrança de meus filhos em meu ventre, meu corpo é perfeito: tenho o tronco, dois braços com mãos e todos os dedos. Tenho duas pernas que, modéstia à parte: acho lindas! Tenho todos os órgãos e como sou grata que meus seios caídos não possuem nenhum nódulo ou tumor! Sim, meu corpo é perfeito! Todo corpo é!



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